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Archive for the ‘Jornalismo’ Category

Assessoria de Imprensa do Gabinete do Reitor

Em editorial publicado nesta segunda-feira (17/9/18), o jornal O Globo ofende a comunidade científica mundial e, em particular, a brasileira, ao chamar a UFRJ e a Uerj de instituições falidas. A vulgaridade e a violência contra as instituições demonstram o tempo de irracionalismo e violência vivido no Brasil de hoje. Desconsiderando a ética e a verdade, O Globo tem contribuído com a propagação de fake news em prol de seus interesses particularistas.

São muitos os exemplos de manipulação que poderíamos citar, mas voltemos à edição do dia 6/9. Enquanto afirmava em editorial que a Universidade havia recusado, há trinta anos, uma oferta de US$ 80 milhões do Banco Mundial para supostos projetos no Museu Nacional, o jornal trazia, na página 16, o desmentido oficial do próprio Banco, informando que a proposta não prosperou em virtude de circunstâncias externas à UFRJ.

Não existe falência da UFRJ e, seguramente, da Uerj. No mês passado, a Universidade Federal do Rio de Janeiro foi apontada pelo ranking de Xangai como a melhor universidade federal do Brasil. Por dois anos consecutivos, a UFRJ aparece no ranking universitário do jornal Folha de São Paulo como a melhor do país. É responsável por cerca de 10% dos programas de pós-graduação com qualidade internacional, conceitos 6 e 7 da Capes e seus cursos de graduação estão entre os melhores do Brasil, conforme resultados do Enade e do MEC.

Estamos falando da instituição que ajudou o país a descobrir o pré-sal, que investigou prontamente a correlação entre zika e microcefalia. A UFRJ equivale a uma cidade. Os seus campi recebem mais de 70 mil pessoas por dia. Possui mais de mil laboratórios e cinco hospitais de ensino. Apenas um deles, o Hospital Universitário Clementino Fraga Filho, realiza cerca de 300 mil atendimentos ambulatoriais e seis mil cirurgias por ano. Seus estudantes da graduação e da pós-graduação estão entre os mais bem formados, com complexas atividades de ensino, pesquisa e extensão.

Importante destacar, também, que a expansão universitária veio acompanhada do crescimento da UFRJ, com novos cursos, novas matrículas, novos programas de pós-graduação e a criação de dois novos campi.

A UFRJ é uma instituição capaz de assegurar um padrão de qualidade conforme todos os melhores indicadores,  além de ser referência no país, mesmo com os brutais cortes orçamentários sofridos nos últimos quatro anos, o que levou a instituição a operar em déficit. Em 2014, o orçamento da UFRJ era de R$ 434 milhões; neste ano, foi de R$ 388 milhões.

O editorial desta segunda-feira volta a insinuar que os gastos com pessoal são crescentes, acima da inflação, o que não é verdade. Em 2014, as despesas com pessoal correspondiam a R$ 2,73 bilhões; em 2018, a R$ 2,66 bilhões. O jornal O Globo fala em excesso de servidores, mas inclui no cálculo da folha os aposentados e pensionistas, induzindo o leitor a erro a partir de premissas erradas. Caso observasse a metodologia internacionalmente aceita da Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE), não utilizaria no custo corrente da instituição as despesas com aposentados e pensionistas (gastos previdenciários). Como a observação metodológica já foi exaustivamente explicada ao jornal, o leitor somente pode concluir que não há compromisso com a verdade.

Quase 70% dos estudantes das universidades federais do país possuem renda per capita abaixo de 1,5 salário mínimo, portanto não teriam as mínimas condições de incluírem pagamento de mensalidade em suas contas mensais. A defesa com a gratuidade da educação é um imperativo ético para o futuro do país. Assim, a forma correta de corrigir as injustiças sociais passa por uma reforma tributária progressiva que incida sobre renda, patrimônio e capital.

Seria muito importante que o editorial explicasse o que quer dizer com aparelhamento partidário. A UFRJ é uma instituição autônoma em relação aos partidos, aos credos religiosos e aos interesses particularistas presentes no Estado e no mercado. Esse é um valor sólido da instituição. Ilações que atribuem a opção partidária constitucionalmente assegurada a todos os cidadãos à manipulação político-partidária da instituição novamente desrespeitam a instituição. A UFRJ é ciosa de sua autonomia e jamais permitiria ser manipulada partidariamente.

A UFRJ, como as demais universidades, presta contas à sociedade por diversos meios, como órgãos de controle e, sobretudo, pelo que a instituição assegura  à sociedade brasileira. A UFRJ tem orgulho de afirmar que o seu principal indicador de eficiência na aplicação dos gastos são os seus resultados auspiciosos e reafirma que a melhor forma de debater o tema da universidade brasileira é com estudos rigorosos,  portanto com o abandono de ideias preconcebidas. Antes de olhar para seus próprios interesses, cada sujeito deve mirar os melhores anseios e possibilidades de futuro. Esse é o debate que a UFRJ anseia e reivindica.

Reitoria da UFRJ

17/9/2018

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por Carol Scorce — publicado 14/09/2018 17h18, última modificação 17/09/2018 13h01
fonte: CARTA CAPITAL
Linguista e ativista norte-americano veio ao País para seminário que discute as ameaças à democracia em todo o mundo
Noam Chomsky

Noam Chomsky veio ao Brasil para debate sobre progressismo e neoliberalismo

O linguista e ativista norte-americano Noam Chomsky, que veio ao Brasil para um seminário internacional organizado pela Fundação Perseu Abramo, afirmou que os cortes em investimentos sociais promovidos em todo o mundo é central para o triunfo do neoliberalismo. Ele vê com preocupação o processo eleitoral no Brasil.

“Penso muito no problema definitivo da democracia no Brasil. E não dá para deixar de lado o fato de que Lula deveria por direito ser candidato à presidência do Brasil. Conheci ele antes dele ser presidente. Passamos alguns dias juntos e fiquei muito impressionado.”

Para analisar o triunfo do neoliberalismo no mundo, Chomsky usou como exemplo as recentes eleições na Suécia, que elegeram um governo de extrema-direta. Para o linguista, as indicações mais corriqueiras de que o processo eleitoral sueco sofreu forte influência do intenso fluxo imigratório são simplistas.

“Já existem pesquisas que mostram que os votos da extrema-direita são de pessoas que tiveram pouco contato com a imigração, mas que sofreram com as políticas neoliberais; com cortes de gastos dolorosos em políticas socais, e que foram esquecidas. As pessoas se sentem traídas. A atual crise repete velhas formas de reduzir a sociedade a indivíduos, como já fazia (Margaret) Thatcher.”

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O norte-americano pontuou que tanto nos Estados Unidos quanto no Reino Unido – e assim como no Brasil – o crescimento na ocupação se dá, essencialmente, nos chamados “empregos alternativos”, descolados de garantias sociais, e “o que têm formado no mundo todo uma imensa massa de trabalhadores precarizados, o chamado precariado,  e que está transformando, como disse (Kalr) Marx, a sociedade num saco da batatas.”

Ainda sobre a crise da democracia, o linguista afirmou que as pesquisas sobre os processos eleitorais demostram que a elegibilidade dos políticos é comprada e que os eleitores estão sem voto, na medida que seus representantes não os ouve, mas sim aos doadores de campanha.

“As leis estão sendo redigídas por lobistas, que olham por cima dos ombros dos burocratas. Enquanto os deputados estão preocupados com as próximas eleições.”

Chomsky encerrou de maneira otimista sua fala aos brasileiros no seminário. “Existem alguns pontos de brilhos no mundo. Movimentos enérgicos capazes de reverter o curso abismal dos últimos anos. O Brasil até pouco era reconhecido como um ‘colosso do sul’. Um dos países mais respeitados no mundo com Lula à frente do governo, com êxitos domésticos e na política internacional. Nos mostrou que aquela meta (de governar para as pessoas) era atingível. Quero dizer que não devemos subestimar os obstáculos que estão por vir, mas menos ainda a capacidade do ser humano de superá-los e de prevalecer”

África 

O ex-secretário geral da Anistia Internacional e presidente do Imagine Africa Institute no Senegal, Pierre Sané, afirmou que a África já importou do Brasil o programa de distribuição de renda Bolsa Família, e que, a depender dos resultados das eleições no Brasil este ano, poderá “importar a maneira judicializada de ajustar uma eleição.”

“O que está acontecendo no Brasil é muito importante para nós (africanos). O candidato mais popular está preso com acusações sem muito respaldo. Um resultado positivo aqui é importante, do contrário vai se tornar comum arbitrar as concorrências eleitorais pelo poder judiciário. O Brasil é um exemplo. Nós queremos o Bolsa Família, e não a justiça coligada com a oposição”, disse.

Itália

Para além dos problemas domésticos de cada país, a crise da democracia foi associada no seminário ao declínio dos sistemas multilaterais, o que estaria “transformando o mundo em um lugar mais predatório.”

O ex-primeiro-ministro da Itália Mássima D’Álema afirmou que a Organizações das Nações Unidas (ONU) “está paralisada por desacordos entre as nações”, citando o conflito na Síria, e acrescentou que os “países estão agindo conforme seus interesses nacionais”, e “limitando os conflitos ao invés de encontrar soluções.”

O seminário contou também com o discurso do ex-primeiro-ministro da Espanha José Luís Rodriguez Zapatero, com o diretor da Fundación Chile 21, do Chile, Carlos Ominami, com o ex-governador do Distrito Federal do México Cuauhtémoc Cárdenas, e com o professor da FGV Luiz Carlos Bresser Pereira.

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Convidado do Fronteiras Braskem do Pensamento, Gilles Lipovetsky é destaque do evento que acontece dia 17, no TCA

“Estamos perdidos”. É com essa e outras frases de impacto que o filósofo francês Gilles Lipovetsky, 73 anos, chega a Salvador para participar do Fronteiras Braskem do Pensamento 2018. “A consequência da crise das instituições públicas é uma espécie de democracia esvaziada de cidadania, doente, empobrecida”, defende o convidado do evento que acontece segunda-feira (17), às 20h30, no Teatro Castro Alves, com ingressos esgotados.

A partir do tema O Mundo em Desacordo – Democracia e Guerras Culturais, Gilles promete fazer um debate com o historiador gaúcho Leandro Karnal sobre “a nova cara que a democracia assumiu desde a globalização”. Em entrevista ao CORREIO, Lipovetsky deu uma prévia do encontro e conversou sobre temas como crise política, individualismo e educação: “A vida não é somente o consumismo, a vida é criação, pensamento, cultura, arte, e a escola deve preparar o homem para isso”. Confira.

Essa é sua primeira vez na Bahia, certo?
Vim ao Brasil várias vezes, mas não à Bahia. Sou até doutor honoris causa em uma universidade de Porto Alegre! Estou muito encantado em visitar o Nordeste, em descobrir Salvador, que acredito ser muito bonita, ir ao Centro Histórico, patrimônio da humanidade, e conhecer os baianos.

O que irá abordar no encontro com o historiador e escritor Leandro Karnal?
Vamos tratar da nova cara que a democracia assumiu desde a globalização. No que me diz respeito, gostaria de falar sobre o impacto da cultura individualista sobre a democracia, sobre como o individualismo hipermoderno transformou a relação dos homens na vida política. Estamos numa democracia que chamo de hipermoderna, que se caracteriza por uma série de fatores, mas, sobretudo, por uma crise. Vivemos numa época de crise da representação política. Os cidadãos estão decepcionados, não acreditam mais nos líderes políticos, estão desconfiados dos partidos, e é esta nova situação que será objeto de nosso debate. Vamos falar da falta de participação das pessoas nas eleições, sobre aqueles que desistiram de votar, sobre a corrupção, em particular no Brasil, mas também em outros países, e sobre o aumento do populismo na América do Norte, com Trump, e na Europa.

O historiador gaúcho Leandro Karnal participa do evento com Gilles (Foto: Tatiana Ferro/Divulgação)

A que se deve a crise das instituições públicas e quais são as consequências?
A consequência dessa crise é  justamente a existência de cidadãos decepcionados com a vida política. Há uma crise de confiança, em particular no Brasil, onde as pessoas não acreditam mais nos partidos de direita, nem nos de esquerda. No Brasil, o ex-presidente está preso, Dilma sofreu impeachment, o atual presidente é amplamente rejeitado pela opinião pública, além dos grandes escândalos que marcam o país permanentemente. Na América Latina, em especial, houve ditaduras, golpes de estado.

É muito grave, numa democracia, quando os cidadãos não têm mais confiança e muitos nem votam mais. A consequência é uma espécie de democracia esvaziada de cidadania, doente, empobrecida.

A primeira causa para essa crise é o colapso das grandes utopias que marcaram a modernidade, desde o século XVIII. Durante mais de dois séculos, os desafios estavam presentes, as grandes esperanças, motivadas pelo progresso, a democracia, de onde brotavam as revoluções. Todos esses sonhos, todos esses ideais não existem mais. As pessoas não acreditam mais nessas coisas, há um mal-estar, e, como também não há mais uma grande crença em relação à história, há uma grande desorientação.

A segunda causa é a impotência da política em relação à economia. No século XVIII, o Estado aparecia aliado à justiça, o Estado deveria salvar os homens das injustiças provenientes das desigualdades sociais. O Estado era a esfera maior, aquele que inspirava confiança, mas, o problema é que com o aumento do poder do mercado econômico, e da globalização, o estado político tem sempre menos poder. É o mercado econômico que comanda tudo. O estado tem muito pouco poder para acabar com o desemprego e reduzir as desigualdades, por exemplo.

Mas, quanto mais o mercado econômico domina, mais aumentam as desigualdades sociais. O Brasil é campeão do mundo nessa questão, existem os muito ricos e os muito pobres.

A terceira causa encontra-se mais na Europa do que na América Latina, são as crises migratórias. Os imigrantes que vêm da África, ou do Oriente Médio, os que passam as fronteiras do mediterrâneo, assim como acontece agora na Venezuela. Na América do Norte, Trump quis construir um muro para impedir que os mexicanos entrem nos Estados Unidos. Esse problema incita o ódio, gera uma espécie de xenofobia que é muito grave para os nossos ideais democráticos e humanistas.

As causas, portanto, muito contemporâneas, são o fim das ideologias, o aumento da globalização capitalista, a falta de poder do Estado e as crises migratórias, que levam as pessoas à desorientação. Quarto fator, sem dúvida, as paixões individualistas provocadas pela busca do bem-estar, do dinheiro, que contribui para a falta de democracia.

(Foto: Divulgação)

No Brasil e nos países subdesenvolvidos, a educação funciona bem para as elites, mas não para os pobres. Há solução para esse problema que persiste?
Claro! Eu vejo duas soluções. A primeira diz respeito ao mundo todo, mas em particular, à América Latina: é necessário que todos os países reservem grandes quantias do seu orçamento para investir no sistema educacional. Na América Latina, em geral, os professores não são respeitados. Não podemos ter uma boa educação se os professores são desrespeitados e mal remunerados. É necessário considerar a educação como um investimento para o futuro, não como uma despesa, pois ela permite que o país se desenvolva. Portanto, é necessário que a educação seja prioridade permanentemente, no mundo inteiro. A segunda solução, muito importante, diz respeito às desigualdades que surgem dentro do sistema educacional. Essas desigualdades aparecem muito cedo, já no primeiro ano das escolas onde estudam crianças menos favorecidas. Para essas escolas é preciso encontrar soluções. Por exemplo, é necessário manter salas de aula com poucos alunos, pois só assim é possível ajudá-los.

Ao invés de salas com 25, 30 estudantes, é preciso ter dez ou 12, pois só assim é possível apoiar, acolher e ajudar essas crianças, que, globalmente, vêm de ambientes desfavorecidos.

Se nós desejamos um sistema educacional mais justo, devemos fazer um esforço suplementar nessa fase, ou seja, no primeiro ano escolar, dando melhores condições às crianças pequenas.

Há quem defenda que os governos de países com grandes desigualdades sociais, como o Brasil, não têm interesse em formar pessoas que pensam. O futuro da democracia é a educação?
Sim, absolutamente! A educação é o futuro da democracia do século XXI. O Brasil é um país muito rico por sua vegetação, por seus recursos minerais, mas não é nada disso que vai gerar o emprego do futuro. É necessário investir na educação para dinamizar a economia. Então, acho que a educação pode ser justificada por pelo menos duas razões: a primeira é a necessidade de se formar profissionais que sejam capazes de ter responsabilidades e que possam assumir profissões criativas que o novo mercado propõe.

Não podemos ter desenvolvimento se não tivermos profissionais desenvolvidos também. Isso só pode acontecer a partir da educação.

Uma segunda grande razão é que a democracia tem um ideal humanista, que é justamente de formar pessoas que sejam capazes de ser outra coisa além de simples consumidores.  A vida não é somente o consumismo, a vida é a criação, o pensamento, a cultura, a arte, e a escola deve preparar o homem para isso, para ser mais rico, não só com mais dinheiro, mas mais rico em suas personalidades, com seus gostos e cultura. É uma exigência da democracia. E ela não significa apenas votar, ela é um exemplo de sociedade que tem como ideal o desenvolvimento integral dos homens. É por isso que acho que o século XXI deveria ser o século da educação.

Os estudantes da França estão proibidos de usar celulares nas escolas. O que acha disso?
Essa é uma ótima notícia! A escola não é televisão, não é para se divertir. A escola deve ser um espaço de ruptura da vida cotidiana. Nela, não são os amigos, nem as redes sociais que contam. O professor está lá para elevar os alunos a um estado de cultura superior. Mas, quando os alunos saem da escola, eles podem usar seus celulares e fazer o que quiserem. Nós fizemos uma pesquisa que comprovou que quando os alunos não têm acesso ao celular, durante as aulas, ficam mais satisfeitos, eles ficam mais atentos. Usar o celular quebra a atenção. Acredito que essa é uma medida necessária e que seria ótimo se o Brasil tomasse a mesma decisão. Os pais também devem dar o exemplo e limitar o tempo de uso do celular, eles devem incentivar seus filhos a fazerem outras coisas, tem muito na vida a se fazer.

(Foto: Divulgação)

No livro Da Leveza: Rumo à Civilização do Ligeiro, o senhor aborda o culto contemporâneo à felicidade. De onde vem a leveza postada nas redes sociais?
No livro eu trato do paradoxo de nossa época: nossa civilização valoriza, de todas as formas, a leveza. A leveza técnica, os smartphones, os tablets… Somos a civilização do consumo, do divertimento, do turismo, das férias, da televisão, dos jogos virtuais. Sim, tudo isso é leve, mas, ao mesmo tempo, quanto mais a civilização se apresenta como leve, mais a vida das pessoas não é leve. As pessoas vivem com dificuldade essa época, elas têm muitas incertezas, inseguranças. A família não organiza mais os encontros, a religião existe, mas não prega verdadeiramente o que fala. Assim, nós somos a civilização do leve, mas estamos desorientados.

Os homens criaram uma situação de insegurança existencial e psicológica completa e aí está o problema. Nós vivemos uma espécie de contradição entre o que é mostrado e o que as pessoas vivem realmente. Claro, é essa contradição que encontramos nas redes sociais. As pessoas buscam formas de se encontrar, elas buscam soluções, e desejam um mundo sem tristezas, sem angústias, mas a existência de cada um é pesada.

O casamento, a vida familiar, o trabalho, a educação das crianças, a forma de se alimentar, a inquietude sobre o futuro, a poluição, o aquecimento global, tudo isso nos coloca em situações extremamente difíceis, e que não são, de jeito nenhum, leves. A leveza, em grande parte, é mitológica, não é sentida de fato pelas pessoas. Eu acho que nós temos que enfrentar essa contradição e isso é muito difícil. Não é uma mudança de governo que poderá resolver essa questão, já que a mesma é inerente à civilização. A escola e o governo não existem para nos dar felicidade; o governo não existe para administrar a felicidade das pessoas, pois, do contrário, estaríamos no totalitarismo.

Não devemos ter uma política da felicidade, porque é muito perigoso, mas, nós devemos encontrar ocasiões de nos dar momentos de felicidade e de afastar certas infelicidades, o que é mais modesto, mais viável. Para a felicidade ninguém tem solução.

Em relação às redes sociais, existe uma figura importante, o narcisismo, que leva as pessoas a falar delas mesmas o tempo todo, a fazerem seu próprio marketing. O que elas esperam? Elas querem ser vistas e muitas esperam, como no Facebook, os likes. Essa é uma forma de existir, de serem reconhecidas, uma forma de obter satisfação. Você coloca fotos e espera a manifestação das pessoas, se curtiram ou não. Você conta os likes obtidos… É outra figura do narcisismo, além do culto ao corpo, à estética. Agora nós temos o narcisismo virtual, na web, em que as pessoas falam de si próprias, se mostram… É a tecnologia que torna possível comportamentos que talvez existissem antes e que hoje têm enorme visibilidade.

(Foto: Divulgação)

O que explica, em sua opinião, o crescimento da extrema direita no Ocidente?
Há um crescimento inegável da extrema direita no Ocidente. O encontramos na Itália, Áustria, Alemanha, na França já há muito tempo. O encontramos, sobretudo, na Polônia, na Hungria, e está acompanhado dos movimentos populistas. A explicação para esse crescimento não é somente econômica, pois existem partidos de extrema direita que crescem na Suécia e lá não há uma significativa crise econômica. Na Alemanha, recentemente, houve ataques aos estrangeiros, e a Alemanha tem uma saúde econômica magnífica. Acredito, profundamente, que esse crescimento deve-se à insegurança psicológica e existencial à qual já me referi nesta entrevista.

Estamos vivendo numa sociedade da insegurança e ela não nos leva apenas à violência. As pessoas se sentem sem proteção mesmo quando não há violência, e isso é novo. Novo porque as religiões, as tradições, os grupos sociais, não abarcam mais a vida. As pessoas estão perdidas, nós estamos perdidos.

O passado não governa mais, e o futuro não nos faz mais sonhar. Estamos numa situação de insegurança, ansiedade, de desorientação geral. E isto não está apenas ligado à vida política, é o conjunto de tudo que coloca as pessoas nesse estado de insegurança. E quem são os responsáveis? As elites políticas e intelectuais, as mídias. Acredito que estamos vivendo uma crise de civilização ligada à ansiedade, à insegurança pessoal que tem origem na globalização, no individualismo e na crise política.

Em tempos de fake news, qual é a importância dos meios de comunicação na formação da opinião pública?
Muito se escreveu sobre a manipulação das mídias ao longo de todo o século passado, quando denunciamos o poder na formação da opinião pública e também o poder da televisão. Hoje, nós estamos numa época de hiper individualização que se caracteriza pelo fato dos indivíduos serem muito críticos em relação às mídias. Não é verdade que as mídias formatem a opinião, pois existem muitos exemplos que mostram divergências entre a posição divulgada pela mídia e a posição da opinião pública.

Eu penso que numa época de hiperindividuação, as mídias de massa têm menos importância que antes. É como em relação aos partidos políticos, em que as pessoas não confiam mais. Vivemos uma crise política e também uma crise das mídias. E para o benefício de quem? Das redes sociais, das falsas informações que encontramos por lá.

A crise, de certa maneira, é mais grave, porque é uma crise dos intermediários. Antes, havia, entre os políticos e os cidadãos, as grandes mídias de política e de massa, hoje não mais. As pessoas leem as notícias no Facebook, no Twitter, nos canais onde elas encontram sempre as mesmas respostas. Acho que vale mais à pena ler jornais, porque nas redes sociais há muita manipulação. Grosso modo, eu acredito que as mídias políticas, a imprensa política, não têm mais muito peso e que as mídias de massa têm importância, mas menos que antes. São as redes sociais que têm um novo papel hoje, porque não precisa mais ter um verdadeiro papel de intermediação. Será importante encontrarmos respostas para essa situação tão grave, e quanto às fakes news: não poderemos impedi-las.

*Tradução gentilmente feita pela professora de francês e poeta Lúcia Santori Carneiro

Serviço
| Fronteiras Braskem de Pensamento |
Programação: Gilles Lipovetsky e Leandro Karnal, no dia 17, às 20h30; Marcelo Gleiser, no dia 15 de outubro, às 20h30
Onde: Teatro Castro Alves (Campo Grande)
Ingressos: Dia 17: esgotados. Dia 15/10: R$ 50 | R$ 25. Informações: 3003-0595. Vendas: bilheteria do TCA, SAC’s dos shoppings Barra e Bela Vista e pelo site www.ingressorapido.com.br.

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Os ideais nacionalistas do ex-presidente Getúlio Vargas, que governou com políticas desenvolvimentistas favoráveis ao Brasil, com empresas nacionais e patrimônio público gerido pelo Estado, não agradaram aos Estados Unidos da América (EUA).  Vargas fez um governo quase que democrático. Sob pressão dos trabalhadores organizados em sindicatos e partidos políticos do campo da esquerda, criou o Ministério do Trabalho, instituiu regras trabalhistas e legalizou a existência dos sindicatos no Brasil.

Nada disso agradou os EUA. Para os megaempresários estadunidenses e o governo norte-americano, era mais lucrativo para eles que o povo brasileiro continuasse no modelo escravagista de relação de trabalho e as riquezas nacionais apropriadas e expropriadas por eles. E que o Brasil permanecesse uma colônia, ou seja: um Brazil.

Enquanto isso, aqui, em território nacional, a elite latifundiária e industrial, subserviente, nunca hesitou em obedecer aos comandos do país imperialista. Não é à toa que o sociólogo Jessé Souza a chama de “elite do atraso”. Sempre ganhou muito dinheiro para trair o Brasil e subjugar a classe trabalhadora.

A carta-testamento de Getúlio Vargas denuncia isso. Tanto é que não se trata de uma carta de um suicida, e sim de uma carta-testamento: “uma reação a uma campanha subterrânea dos grupos internacionais, aliados aos grupos nacionais, para bloquear a legislação trabalhista e o projeto desenvolvimentista”.

Semelhante a 2016, o golpe de 1954 era para impedir a emancipação da classe trabalhadora e a apropriação das riquezas nacionais pelo próprio povo brasileiro. Mas, naquela época, o povo reagiu a essa interferência norte-americana. A comoção nacional, com a morte de Vargas, tornou-se cólera contra as Forças Armadas e as empresas estrangeiras que habitavam solo brasileiro.

“Atualmente, a prisão de um ex-presidente, do campo democrático-popular, defensor dos interesses nacionais e da classe trabalhadora mostra a ação clara dos interessados em colonizar o Brasil e a tentativa arbitrária de repetir, hoje, 1954, 1964 e outros golpes aplicados na América Latina”, compara Cláudio Antunes, diretor de Imprensa do Sinpro-DF.

Os EUA não param. Com a colaboração da elite financeira e militar brasileira, nunca aceitaram a implantação de um projeto democrático, popular e desenvolvimentista no Brasil. Em 1964, para retirar o ex-presidente João Goulart do poder, mais uma vez, acionou os militares para aplicar um golpe de Estado que durou 21 anos.

Em 1985, ano que terminou a ditadura, a nação foi devolvida quase que totalmente desmontada pelos interesses imperialistas dos EUA e da elite militar e civil brasileira. Mas o povo reconstruiu o país. Em menos de uma década, entre 2002 e 2015, o país se desenvolveu. Alcançou o pleno emprego. O país ia muito bem nos BRICS etc. Descobriu o pré-sal e estava investindo parte dos recursos financeiros provenientes desse mineral em seu próprio desenvolvimento.

Todavia, novamente a interferência dos Estados Unidos com um golpe de Estado, aplicado em 2016, sustentado pela Operação Lava Jato e pela elite financeira e latifundiária nacionais. As consequências do golpe de 2016 estão aí: a reforma trabalhista para desmontar a Consolidação das Leis do Trabalho (CLT), do governo Vargas; a reforma do ensino médio – um projeto semelhante ao MEC-USAID, de 1968, que foi rejeitado e veementemente combatido na fim da década de 1960; e a entrega do pré-sal e de outras riquezas nacionais. Confira, a seguir, matéria do site Memorial da Democracia, publicado na Carta Capital, sobre o golpe de 1954.

24 de agosto de 1954: Getúlio se mata com um tiro no coração
Suicídio interrompe golpe, que já era comemorado com campanha por Lacerda

De manhã cedo, o presidente Getúlio Vargas, de pijamas, sai do seu quarto no palácio do Catete, vai até o gabinete de trabalho e volta com um envelope. Pouco tempo depois, ouve-se um tiro. O filho, Lutero, corre para os aposentos do pai, seguido pela irmã, Alzira, e pela mãe, Darci. Encontram Getúlio caído na cama, com um revólver Colt calibre 32 perto da mão direita. Na altura do coração, um buraco da bala e uma mancha de sangue. Encostado no abajur, sobre o criado-mudo, estava o envelope contendo a carta que, datilografada na véspera por um amigo, explica o gesto — não é um lamento, mas um manifesto político.

A carta-testamento não deixava dúvida sobre como o suicídio deveria ser entendido: era uma reação a uma campanha subterrânea dos grupos internacionais, aliados aos grupos nacionais, para bloquear a legislação trabalhista e o projeto desenvolvimentista. “Se as aves de rapina querem o sangue de alguém, querem continuar sugando o povo brasileiro, eu ofereço em holocausto a minha vida”, dizia a carta, que concluía: “Serenamente dou o meu primeiro passo no caminho da eternidade e saio da vida para entrar para a história.”

Naquele momento, seu maior adversário, Carlos Lacerda (UDN), ferido no pé dias antes no atentado da rua Tonelero, comemorava com champanha o golpe que parecia vitorioso.

Horas antes, uma reunião de oficiais de alta patente recusara a proposta de Getúlio de licenciar-se da Presidência enquanto se desenrolasse o Inquérito Policial Militar (IPM) sobre o atentado. Brigadeiros, almirantes e generais foram taxativos: só aceitariam a renúncia.

Certo de que vencera o último round na luta contra Getúlio, Lacerda vociferou numa emissora de rádio: “Aqui estou, no dia da redenção nacional […] para declarar que esse covarde, esse pusilânime, não está licenciado, está é deposto, o lugar dele é no Galeão [palco do IPM] ou no estrangeiro, e deve apodrecer na cadeia!”

Getúlio estava encurralado. Às duas horas da manhã, numa reunião ministerial, ouvira dos ministros militares que os oficiais das três armas haviam se unido em torno do manifesto dos brigadeiros que pedia sua renúncia. Às seis horas, dois oficiais da Aeronáutica foram ao Catete convocar Benjamim, irmão de Getúlio, para depor no Galeão.

Pouco antes do suicídio, o presidente recebera a notícia de que o comando das Forças Armadas havia se somado ao movimento pela sua renúncia imediata.

Getúlio cumpriu então o que havia prometido ao país dias antes. Eleito pelo povo, só sairia morto do palácio do Catete. Por volta das oito horas da manhã, suicidou-se com um tiro no peito.

A notícia, veiculada pouco depois pelas rádios, chocou o país. A população, revoltada, saiu às ruas para expressar sua indignação e homenagear o presidente morto.

No Rio de Janeiro, capital da República, uma multidão amargurada, revoltada e colérica passou a percorrer as ruas, armada com paus, pedras e fúria. Arrancou dos postes propaganda da oposição, quebrou as vidraças da Standart Oil, apedrejou a fachada da embaixada dos Estados Unidos e os prédios onde funcionavam os jornais “O Globo” e “Tribuna da Imprensa”. Para arrematar, incendiou os caminhões que distribuíam esses jornais. Só a “Ultima Hora”, que era favorável ao governo Vargas, pôde circular naquele dia.

Horas depois, em frente ao palácio do Catete, um milhão de pessoas tentava ver o corpo do presidente. Muitos choravam compulsivamente, outros desmaiavam, e havia aqueles que, ao entrar na sala onde acontecia o velório, se agarravam ao caixão.

Às oito e meia da manhã do dia 25, a multidão acompanhou o corpo de Getúlio até o aeroporto Santos Dumont, em um gigantesco cortejo que se desenrolava pela praia do Flamengo, do Russel até a avenida Beira-Mar.

Quando o avião da Cruzeiro do Sul desapareceu no céu rumo a São Borja, aconteceu o inevitável: as pessoas perceberam que estavam em frente ao quartel da 3ª Zona Aérea. O que era dor virou cólera, e a multidão avançou contra a guarnição da força militar que era escancaradamente oposição ao governo Vargas. Os soldados da Aeronáutica, aterrorizados, dispararam contra a população civil desarmada durante 15 minutos. No tumulto, mulheres e crianças foram pisoteadas, uma pessoa morreu e muita gente saiu ferida.

A comoção nacional transformou inteiramente a situação política. Os golpistas tiveram de recuar às pressas. As tropas voltaram aos quartéis, e os líderes da oposição, inclusive Lacerda, preferiram se esconder da fúria popular.

Getúlio, o “pai dos pobres”, havia partido. O povo estava de luto, mas vigilante. Nas ruas, deixava claro que não aceitaria ver os inimigos do presidente, que o haviam levado à morte, dando novamente as cartas no Brasil.

*Publicado originalmente no Memorial da Democracia

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Reportagens sobre a ditadura militar, produzidas por vários repórteres, e artigo de Eliane Brum são premiados7

Fonte: El País – Brasil

EL PAÍS Brasil vence prêmio com série de reportagens sobre os crimes da ditadura militar brasileira, revelados pelo relatório da Comissão da Verdade. AP

 

EL PAÍS Brasil, a edição em português de EL PAÍS, com sede em São Paulo, obteve dois prêmios de Excelência Jornalística 2016 da Sociedade Interamericana de Imprensa (SIP).

O primeiro deles, na categoria de Direitos Humanos e Serviço à Comunidade, foi concedido à série de reportagens e informações que EL PAÍS Brasil publicou em dezembro de 2014 após a divulgação do relatório da Comissão da Verdade, isto é, do conjunto de relatos e revelações sobre os crimes da ditadura brasileira. O júri destacou “a síntese, a linguagem direta e o profundo impacto humano das histórias pessoais” das matérias publicadas por EL PAÍS Brasil, elaboradas por Talita Bedinelli, Heloísa Mendonça, Raquel Seco, Afonso Benites, Marina Rossi, Gil Alessi, María Martín, Carla Jiménez e Antonio Jiménez Barca.

O segundo prêmio foi na categoria Opinião. A colunista de EL PAÍS Brasil Eliane Brum foi a vencedora com o artigo A mais maldita das heranças do PT. O júri ressaltou que Brum, “com uma redação elegante e amena, descreve a crise do Partido dos Trabalhadores (PT) e, em geral, da esquerda brasileira e motivou um intenso debate tanto nas redes sociais como em outras publicações.”

Veja algumas das reportagens premiadas:

Brasil reescreve a sua história ao revelar detalhes da ditadura

Nas mais de 1.300 páginas entregues à Dilma Rousseff, ela própria presa e torturada pelos militares e ouvida no documento, o texto detalha, além dos métodos de tortura, execuções, ocultação de cadáveres, detenções ilegais e desaparecimentos forçados que, “dada a escala e a sistematicidade com que foram cometidos, constituem crimes contra a humanidade, e não são passíveis de anistia”.

A máquina de escrever que evitava torturas

Presos da ditadura enfrentavam com frequência um problema básico: informar os seus familiares de que ainda estavam vivos

“Eu acho, não, tenho quase certeza que eu não fui estuprada”

Detalhes aterrorizantes do relatório mostram que a violência sexual ultrapassou “todos os limites da dignidade humana”

Da Casa de Horrores do Ceará aos navios-prisões do Sul do país

Comissão da Verdade lista 11 locais secretos usados pelos militares para torturar e matar militantes da esquerda no Brasil

O relatório sobre a ditadura em três histórias

“Os militares diziam que a tortura não passa nunca. Eles tinham razão. A marca não sai, seja no corpo, seja na cabeça.”

“As marcas da tortura sou eu. Fazem parte de mim”

“Eu tinha 19 anos, fiquei três anos na cadeia e fui barbaramente torturada, senador. E qualquer pessoa que ousar dizer a verdade para interrogadores compromete a vida dos seus iguais”, disse Dilma Rousseff.

A mais maldita das heranças do PT

“O partido das ruas perdeu as ruas – menos porque foi expulso, mais porque se esqueceu de caminhar por elas. Ou, pior, acreditou que não precisava mais.”

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Sindicato publicou nota condenando abordagem aos profissionais e cobrou audiência com GovernadorUma barreira de policiais militares posicionada logo depois das catracas aguardava quem saía de dentro da estação Sé do metrô, em São Paulo, no último dia 7. Era Dia da Independência e lá em cima, em frente à Catedral da cidade, um protesto contra o Governo de Michel Temer estava prestes a começar. Uma família que ia ao Shoppping Light, na região, foi retida para revista, um garoto que estava fazendo turismo também. Mas os alvos preferenciais para averiguação eram fotógrafos que iam cobrir o protesto.

Um deles, que já trabalhou nas principais redações do país e hoje atua comofreelancer, foi ameaçado de ser levado para uma delegacia. “Eles ficaram perguntando onde eu morava, por que estava com capacete, por que era carioca e estava indo a um protesto em São Paulo”, contou. Quando um grupo de jornalistas chegou ao local da abordagem, foi liberado. Outro parado foi Vinicius Gomes, 19 anos, que trabalha no coletivo independente Afroguerrilha. Era a segunda vez que ele tinha contato direto com a polícia desde o afastamento definitivo de Dilma Rousseff. No dia 31 de agosto, foi agredido em uma abordagem, levou cinco pontos na cabeça e teve seu equipamento de trabalho jogado no chão e destruído.

 Denúncias de abuso policial contra fotojornalistas não são novidades. Um fotógrafo que preferiu não se identificar contou que em 2014, depois de ser alvo de uma ação violenta da polícia e aparecer em algumas reportagens, passou a ser perseguido, inclusive com ligações e intimidações em sua casa. “Eles estacionavam a viatura do lado de fora e ficavam algumas horas na porta”, disse.Também ficou conhecido o caso do fotógrafo Sérgio Silva, que perdeu um olho após ser atingido por uma bala de borracha da PM em protesto em junho de 2013 – em uma decisão controversa, a justiça ainda o considerou culpado pelo incidente.

Com tudo isso, o Sindicato dos Jornalistas de São Paulo publicou uma nota em repúdio à ação da polícia nos últimos dias e pediu uma audiência com o Governador Geraldo Alckmin (PSDB). Por enquanto, não obteve nenhuma resposta. Para o diretor do Sindicato, Alan Rodrigues, o caso de Gomes que teve seu equipamento quebrado, ilustra bem a escalada de violência contra profissionais da imprensa. “Hoje, o perfil do fotojornalista mudou, é difícil ver alguém que trabalha fixo em um jornal. Geralmente são freelas e profissionais que atuam em mídias alternativas. Esses têm sido alvos preferenciais. Claro que ninguém merece esse tratamento, mas acreditamos que a polícia os vê como ativistas e não trabalhadores, aí a abordagem é pior ainda”, diz Rodrigues.

Gomes conta que no dia 31, após de ter sido vítima de socos e chutes, foi levado para uma delegacia, depois para um pronto-socorro onde recebeu atendimento médico, e, por fim, novamente para delegacia. Tudo começou por volta das 21h e só foi terminar lá pelas 4h da manhã. Neste ínterim, ele contou ter ficado mais de 40 minutos de pé, virado para a parede, enquanto os advogados acionados pelos fotógrafos que viram a abordagem da polícia não chegavam à delegacia. “No final, tivemos que assinar um B.O não criminal e fomos liberados”, contou.

Agora, o coletivo Afroguerrilha está fazendo um crowdfunding para comprar novo material para Gomes e, no domingo, uma ação conjunta de fotógrafos irá vender fotografias no vão do Masp para arrecadar dinheiro. “Acho que até por eu ser negro, sou um alvo mais visado. Durante todo o tempo em que estive na delegacia percebi que o meu tratamento era diferente de outro fotógrafo que foi levado junto comigo. Eles ficavam me chamando de neguinho, perguntando se eu nunca tinha sido preso por fumar um baseadinho”, diz Gomes. Ele conta que a presença de fotógrafos negros em cobertura de protestos é cada vez maior. “A gente está conseguindo comprar nosso equipamento agora e isso, na verdade, é maravilhoso. Seria ótimo se cada jovem negro tivesse uma câmera para registrar nossa realidade”.

Nesta terça-feira (6), a Procuradoria Federal dos Direitos do Cidadão (PFDC), órgão do Ministério Público Federal, disse que vai monitorar as ações das policias do Rio de Janeiro e de São Paulo durante as manifestações de forma geral. Rodrigues disse que nunca havia presenciado uma situação tão tensa como a que está acontecendo em São Paulo entre policia e jornalistas. “Cerca de 30 fotógrafos já entraram em contato com o sindicato para relatar agressões”, conta. Procurada pelo EL PAÍS, a Secretaria de Segurança Pública do Estado de São Paulo não se pronunciou sobre o caso de Vinícius Gomes ou sobre a nota publicada pelo Sindicato até o fechamento desta reportagem.

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Na última quarta-feira (22/9), o papa Francisco recebeu cerca de 400 integrantes do Conselho da Ordem dos Jornalistas Italianos. O encontro foi realizado com o objetivo de aprofundar a missão do comunicador na atualidade.
Crédito:Divulgação
Papa se reuniu com membros do Conselho da Ordem dos Jornalistas Italianos
De acordo com a Radio Vaticano, o Papa ressaltou que a Santa Sé também passa por um processo de mudanças em seu sistema comunicativo, com a Secretaria para a Comunicação, que deve virar referência para os jornalistas.
Francisco frisou que o jornalista possui grande responsabilidade, pois escreve “o primeiro esboço da História”, gerando debates e interpretações dos eventos. O pontífice disse que é preciso refletir três elementos: amar a verdade, viver com profissionalismo e respeitar a dignidade humana.
Para o papa, o jornalismo deve distinguir os fatos, sobretudo nos embates políticos e conflitos. Francisco reforçou o papel do jornalista de se aproximar da verdade e jamais noticiar algo que não corresponde à realidade.
“O jornalismo não pode se tornar uma ‘arma de destruição’ de pessoas e, até mesmo, de povos. Nem deve alimentar o medo diante de mudanças e fenômenos como as migrações forçadas pela guerra ou pela fome”, declarou.

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Nova plataforma de vídeo foi pensada especialmente para a criação de conteúdo noticioso

Fonte: EL PAÍS
Vídeo da cantora Taylor Swift no Youtube. GEMA GARCÍA / VÍDEO: EPV

 

O Google anunciou em seu blog o lançamento do YouTubePlayer, uma plataforma de vídeo voltada para editores dos meios de comunicação. Trata-se de um produto criado especialmente para o setor jornalístico a fim de diminuir a complexidade do trabalho e ampliar a divulgação de notícias. Segundo a própria empresa, as redações dos veículos de comunicação podem, com isso, focar os seus esforços naquilo que é mais importante, ou seja, a criação de conteúdos atraentes. Vários grupos europeus participaram do projeto dessa plataforma, entre eles oGrupo PRISA, que publica o EL PAÍS, a Unidade Editorial da Espanha, a France24, na França, e o The Guardian, no Reino Unido.

Noemí Rodríguez, Chief Digital Officer (CDO) do EL PAÍS, afirma que o jornal não apenas é lido, mas também visto, e que, por isso, o uso do player do YouTube acrescenta uma série de incrementos que reforçam a proposta editorial de todos os seus canais. “Isso garante uma ótima experiência para o usuário e impulsiona o desenvolvimento e a descoberta de novas audiências”, comenta. Além disso, explica Rodríguez, trata-se de uma iniciativa ambiciosa que atende simultaneamente a diversas necessidades da produção e da distribuição do vídeo. “Ela mostra também que é possível se chegar a um modelo de colaboração consistente entre os meios de comunicação e as grandes plataformas de publicação”, acrescenta.

A plataforma do YouTube auxilia no armazenamento de vídeos, na transmissão por streaming, na gestão dos direitos autorais e na análise estatística dos usuários. Essas qualidades permitem uma conexão melhor com as diversas audiências por meio do uso do vídeo, tornam possível incrementar o controle sobre os conteúdos e, sobretudo, reduzem a complexidade do uso da plataforma, o que leva, igualmente, a uma diminuição dos custos.

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Do Porta INJET – Rede de Jornalistas Internacionais

Jornalistas, ativistas digitais e outros defensores da liberdade de expressão no mundo todo podem ser nomeados.

Index on Censorship Freedom of Expression Awards  homenageia indivíduos que lutam para se expressar em condições difíceis e perigosas.

O Index convida o público, ONGs e organizações de mídia a nomear indivíduos em quatro categorias: artes, campanhas, ativismo digital e jornalismo.

Os vencedores serão levados para Londres para participar da cerimônia de premiação em abril de 2017. Também serão convidados a participar de um programa para treiná-los e ajudá-los a ampliar seu trabalho para a liberdade de expressão.

O prazo de nomeação vai até 3 de outubro.

Para mais informações (em inglês), clique aqui.

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A Associação Brasileira de Emissoras de Rádio e Televisão (Abert) e a Associação dos Correspondentes Estrangeiros (ACE) condenaram as agressões sofridas por profissionais de imprensa durante a cobertura dos protestos do último domingo (4/9).

Fonte: Portal Imprensa
Veja aqui a matéria no site do Portal Imprensa

Crédito:Reprodução
Jornalistas são agredidos durante cobertura de protestos em SP
As entidades citam o caso do repórter da BBC Brasil, Felipe Souza, que cobria a manifestação contra o presidente Michel Temer, em São Paulo, quando foi agredido por policiais. “O jornalista estava identificado com colete e crachá da imprensa, mas, ainda assim, foi vítima de pelo menos quatro policiais que deveriam zelar pela segurança do protesto”, lembrou a Abert.
“As agressões verbais e físicas registradas pelo repórter repetem um padrão de abusos contra a imprensa que vem sendo registrado desde os protestos de 2013, especialmente quando os manifestantes são de oposição ao governo de São Paulo, o que fere não apenas aos jornalistas, mas a liberdade de expressão, e o direito de protestar garantido pelas instituições democráticas do Brasil e do exterior”, observou a ACE.
Na nota, a Abert lembra também do episódio com a reportagem do jornal O Estado de S. Paulono Rio de Janeiro, onde o engenheiro Rubem Ricardo Outeiro de Azevedo Lima, aos gritos de “jornal fascista” e “golpista”, chutou o carro do jornal amassando o porta-malas e a porta do motorista.
De acordo com a Associação, pelo menos dez casos de agressões contra profissionais da imprensa foram registrados nos protestos da semana passada. A entidade pede que as autoridades façam uma “apuração rigorosa” dos fatos e punam os culpados.
“A ACE apoia também o apelo de entidades nacionais e internacionais que defendem o exercício da atividade jornalística, pedindo ao Governo de São Paulo que investigue e puna os abusos registrados contra jornalistas e cidadãos desarmados”, completou.

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