29/9/2012
Chile investiga possível assassinato de Neruda
O poeta Pablo Neruda (Parral, 12 de Julho de 1904 — Santiago, 23 de Setembro de 1973)
Causa oficial da morte, em 1973, é câncer em estágio inicial. Suprema Corte analisa indícios de que ditadura Pinochet teria envenenado poeta que soube combinar inovação formal constante com militância política
Por Milton Ribeiro, no Sul21
[Título original: “Pablo Neruda, o homem que gostava de ser chamado de “poeta de utilidade pública”]
Uma coincidência de datas leva o Sul21 a novamente deslocar seu foco para o Chile. Afinal, uma semana após o inequívoco assassinato de Víctor Jara, houve uma estranha morte: a do poeta, diplomata e comunista Pablo Neruda. A insistência de Manuel Araya, antigo motorista do escritor, em afirmar que o poeta foi assassinado por agentes do regime, levou a Suprema Corte chilena a investigar, ainda sem resultados, a morte do Prêmio Nobel de Literatura de 1971, também nos primeiros dias da ditadura de Pinochet. No livro Sombras sobre Isla Negra, la misteriosa muerte de Pablo Neruda (2012), o jornalista espanhol Mario Amorós dá um panorama bastante amplo sobre as dúvidas que cercam a morte do grande poeta.
Resumindo: a causa oficial da morte foi uma septicemia causada pelo câncer na próstata, ainda em estágio inicial, que o poeta contraíra. Porém a esposa de Neruda, Matilde Urrutia, garantiu que a causa de morte não foi o câncer. Ela afirmava que acausa mortis fora simplesmente uma parada cardíaca e jamais denunciou que seu marido tivesse sido assassinado. Enquanto isto, Araya, designado pelo Partido Comunista como assistente privado e motorista de Neruda, que tinha 20 anos em 1973, testemunhou à Justiça chilena ter visto um médico aplicando uma injeção venenosa em Neruda.
A nota da morte de Neruda no Jornal do Brasil. Clique para ampliar.
No inquérito aberto, consta a declaração do diplomata mexicano Gonzalo Martínez de que o escritor estava bem e fazia planos para o exílio um dia antes de morrer. “A dúvida é esta: se aplicaram dipirona (analgésico) para amenizar as dores, como afirmou o médico da clínica, ou se injetaram veneno, como testemunha o motorista”, escreveu Amorós.
O então embaixador mexicano no Chile confirmou a informação passada por Araya de que Neruda pretendia viajar ao México a fim de fazer oposição ao governo de seu país a partir do exterior. Ele confirmou também que o governo mexicano havia enviado um avião para buscar, no Chile, Neruda e outros futuros exilados. O problema é que a saída de Neruda não era consenso entre a junta militar desorganizada e assassina daqueles dias. Depois de Allende, o poeta era o cidadão chileno mais conhecido mundialmente e os militares tinham certeza de que ele causaria problemas ao regime no exterior. O juiz Mario Carroza, que preside o processo, concorda e considera plausível a hipótese de assassinato, já que Neruda no exílio representaria uma “situação difícil” para Pinochet.
Uma morte cada vez mais discutida
Como se não bastasse, o ex-presidente Eduardo Frei Montalva, um democrata-cristão que governou o Chile por seis anos antes de Allende (1964-1970) (não confundir com seu filho Eduardo Frei Ruiz-Tagle, presidente do país entre 1994 e 2000), faleceu em 1982 na mesma clínica, a Santa María, quando liderava uma incipiente oposição ao regime. Sua morte ocorreu devido a complicações ocorridas em uma cirurgia simples. As complicações são as mesmas de Neruda, tudo acabou numa septicemia causadacomprovadamente por envenenamento. Em 7 de dezembro de 2009, foram presas seis pessoas implicadas no homicídio de Frei. As perícias indicaram que sua morte foi provocada “pela introdução paulatina de substâncias tóxicas não convencionais e pela aplicação de um produto farmacológico não autorizado”. A intoxicação com as mesmas substâncias usadas na fabricação de gás-mostarda e de veneno de rato, causou o enfraquecimento do sistema imunológico de Eduardo Frei Montalva que facilitou o aparecimento de “bactérias oportunistas”, que “resultaram na causa final da sua morte”. Em outras palavras, uma septicemia como a de Neruda.
Neruda abriu mão de sua candidatura à presidência do Chile para apoiar Allende. Ambos faleceram naquele trágico setembro de 1973.
Seguindo em nossa história sem cronologia, talvez seja importante ressaltar que, durante a eleição presidencial do Chile, em 1969, Neruda, que era candidato a Presidente, abriu mão de sua candidatura em favor de Salvador Allende. Dois anos depois, em outubro de 1971 , quando Neruda recebeu o Nobel de Literatura, Allende convidou-o para uma leitura de alguns de seus poemas no Estadio Nacional de Chile. Público: 70 mil pessoas.
Aliás, em 1945, Pablo Neruda lera para 60 mil pessoas no Pacaembu, em 15 de julho de 1945, …
Quantas coisas quisera hoje dizer, brasileiros,
quantas histórias, lutas, desenganos, vitórias,
que levei anos e anos no coração para dizer-vos, pensamentos
e saudações. Saudações das neves andinas,
saudações do Oceano Pacífico, palavras que me disseram
ao passar os operários, os mineiros, os pedreiros, todos
os povoadores de minha pátria longínqua.
Que me disse a neve, a nuvem, a bandeira?
Que segredo me disse o marinheiro?
Que me disse a menina pequenina dando-me espigas?Uma mensagem tinham. Era: Cumprimenta Prestes.
Procura-o, me diziam, na selva ou no rio.
Aparta suas prisões, procura sua cela, chama.
E se não te deixam falar-lhe, olha-o até cansar-te
e nos conta amanhã o que viste.Hoje estou orgulhoso de vê-lo rodeado
por um mar de corações vitoriosos.
Vou dizer ao Chile: Eu o saudei na viração
das bandeiras livres de seu povo.(…)
… em homenagem ao líder comunista Luís Carlos Prestes.
O jovem Neruda
Uma vida que mistura poesia e militância
Pablo Neruda é o pseudônimo de Neftalí Ricardo Reyes Basoalto, nascido em Parral, no Chile, em 1904. Desde o primeiro poema, adotou Pablo Neruda, em homenagem ao poeta e contista checo Jan Neruda. Começou a escrever muito jovem e logo foi reconhecido como uma voz distinta. Alcançou reconhecimento no mundo de fala espanhola com Veinte poemas de amor y una canción desesperada (1924), obra que, junto com Tentativa del hombre infinito (1926) são seus principais livros da juventude. Na época, Neruda era um poeta entre o modernismo e a vanguarda. Mas era impossível viver apenas de poesia e eventuais colaborações em jornais e Neruda obteve ingresso na carreira consular, o que o levou a residir na Birmânia, Ceilão, Java, Singapura e, entre 1934 e 1938, na Espanha, onde conheceu García Lorca, Vicente Aleixandre, Gerardo Diego e outros componentes da Geração de 27, fundando a revista Caballo Verde para la Poesía. Desde o primeiro manifesto da revista, tomou partido de uma “poesia sem pureza”, próxima da realidade imediata, o que já indicava sua disposição futura.
Apoiou os republicanos durante a Guerra Civil Espanhola. Reflexo óbvio desta época éEspaña en el corazón. Himno a las glorias del pueblo en la guerra 1936-1937. Pouco a pouco, seus poemas deixaram o hermetismo de sua produção quando jovem e passaram a temas seculares mais sombrios, que se referiam ao caos da realidade cotidiana, à passagem do tempo e à morte.
De volta ao Chile, Neruda ingressou em 1939 no Partido Comunista. Em 1945, foi eleito senador. Também foi o primeiro poeta a ser agraciado com o Prêmio Nacional de Literatura no Chile. Mas seus discursos no Senado desagradavam de tal modo a direita chilena que Neruda passou a ser ameaçado fisicamente, o que o levou ao exílio, primeiramente na Argentina. A vida política de Neruda e sua literatura eram aspectos da mesma pessoa e aqueles foram os anos da poesia de inspiração social de Canto General (1950).
Neruda discursando na URSS
De lá, ele foi para o México, e mais tarde visitou a URSS, China e países do Leste Europeu. Após esta longa viagem, durante a qual Neruda escreveu poemas laudatórios e datados às grandes figuras de sua época, recebeu o Prêmio Lênin da Paz e retornou novamente ao Chile. Sua poesia passou a uma nova fase onde a simplicidade formal correspondeu a uma grande intensidade lírica, emoldurada por serenidade e humor.
Sua produção foi reconhecida internacionalmente em 1971, quando foi agraciado com o Prêmio Nobel de Literatura. No ano anterior, como dissemos, havia renunciado à candidatura presidencial em favor de Salvador Allende, que o nomeou embaixador em Paris logo depois. Dois anos mais tarde, já seriamente doente, ele retornou ao Chile. Sua autobiografia, Confieso que he vivido (1974), foi publicada postumamente.
O poeta
Neruda esteve sempre disponível a todas as influências possíveis. Sua ligação com o movimento surrealista e vanguarda espanhola e americana são claras em seus trabalhos iniciais. Quem lê Residencia en la Tierra (1925-1931) percebe a quantidade de imagens que emergem do inconsciente. As transformações do poeta nunca ocorreram subitamente. Assim, Crepusculario (1923) é fortemente pelo modernismo, enquanto Residencia en la Tierra já é surrealista, com imagens de sonhos de aparente irracionalidade. Mais tarde, em Canto General (1950), ele evolui para uma poesia comprometida com a realidade política e social. De fase em fase, Neruda parece ir trocando lentamente as pedras do mosaico de seus temas, mas mantém o estilo inconfundível, compondo uma obra vasta, coerente e comprometida.
O poeta íntimo e de “utilidade pública”, como gostava de se autodefinir
“Minha poesia é meu íntimo, eu a concebo como emanada de mim. Como minhas lágrimas e meu pouco cabelo, ela me integra.” A originalidade da Neruda advém não apenas de seu estilo, mas da escolha de temas. Ele rejeitou os temas mais comuns: o pôr do sol, as estações, os namoros na varanda ou no jardim, etc. Seus assuntos são cidades modernas, os rostos de criaturas monstruosas, a vida cotidiana em seu grotesco de miséria e de marasmo. E a morte, sempre a morte — palpável, inanimada ou ainda em vida. Ela é sua maior obsessão e penetra em tudo, no amor, na ruína, na agonia e na corrupção.
Sua poesia política e combativa não deve ser confundida com palavras de ordem gritadas à multidão. São argumentações nas quais nunca estão ausentes a poesia e a beleza. Neruda foi um homem político de posições claras, mas isto é apenas uma faceta de um grande criador, de um homem que refletiu seu mundo de maneira incomum e abrangente, que foi sensual e trágico, confessional e hermético, simples e filosófico, errante e contemplativo, íntimo e de “utilidade pública”, como ele gostava de ver chamada sua obra.
Reza a lenda que Neruda finalizou Confiesso que he vivido (Confesso que vivi) exatamente no dia 11 de setembro, data do golpe militar e da morte de Allende. Suas casas, entre elas a lendária casa de Isla Negra, foram invadidas. Logo ele foi para a clínica de Santa María e a partir de então tudo são dúvidas, até sua morte em 23 de setembro.
Com informações do artigo Características de la poesía de Pablo Neruda, de Carmen Goimil Peluffo, além de vários livros de e sobre Neruda.
Fonte: Outras Mídias
15/9/2012
Processos desestimulam biógrafos a produzir novos livros
Por Marianna Paiva
Saber mais sobre a trajetória de um ídolo ou de uma personalidade pública, por vezes, até mais que ele próprio. Dentro das páginas de uma biografia, cabem histórias da infância, momentos bons e ruins e até confissões que nem mesmo o analista ouviu. Numa busca rápida pela internet e pelos jornais, logo o pesquisador se depara com uma enorme quantidade de manchetes falando sobre proibição judicial de biografias e polêmicas envolvendo a família dos biografados.
Recentemente, a Associação Nacional dos Editores de Livro ingressou na justiça com uma Ação Direta de Inconstitucionalidade (ADI 4815/2012) para solicitar a modificação dos artigos 20 e 21 do Código Civil, que determinam a proibição de publicação de obra escrita sobre alguém, salvo se devidamente autorizada. Caso se trate de morto ou ausente, a família é que pode processar.
Para Rodrigo Moraes, professor de Direitos Autorais da Ufba, há um conflito entre direitos: “De um lado, o de liberdade de expressão; do outro, o da imagem, da honra, da intimidade. Nem defendo a liberdade de expressão sem limites nem o abuso de direito dos herdeiros”.
Casos concretos Autor de biografias de Nelson Rodrigues e Carmen Miranda, Ruy Castro se viu envolvido numa polêmica com a família de Garrincha durante praticamente uma década. A biografia do jogador, Estrela Solitária: Um Brasileiro Chamado Garrincha (Companhia das Letras, 1995) chegou a ter sua venda proibida pela justiça. O motivo: as filhas do jogador ficaram insatisfeitas com a alusão feita ao tamanho do pênis de Garrincha e aos problemas com alcoolismo.
Outra obra que foi recolhida das livrarias foi a biografia Roberto Carlos em Detalhes, de Paulo César Araújo. Recentemente, entretanto, o Tribunal de Justiça de São Paulo negou o pedido de apreender a biografia não-autorizada de João Gilberto, escrita por Walter Garcia.
Para Ruy Castro, o que aconteceu com seu livro foi “uma violência contra todo mundo”. “Contra o livro, é óbvio, e contra a liberdade de expressão. Contra a editora, que gastou uma nota com advogados nesse longo processo. E contra as próprias filhas do Garrincha, que foram usadas como inocentes úteis por advogados espertos e enganadas por eles – que, mesmo que ganhassem a causa, só dariam uma mixaria para elas”.
Ruy diz que o trabalho de biografar é da maior dificuldade. “Quem vai se jogar num projeto que dura anos e dá o maior trabalho do mundo para, no fim, ver o seu livro proibido de circular, recolhido no depósito ou mesmo impedido de ser publicado? Depois dessa história de censura, aí é que desisti mesmo. Mas tenho fé em que o Artigo 20 do Código Civil, que provocou toda essa confusão sobre biografias, cairá antes do fim do ano”, afirma, esperançoso.
Depois de ser processado por conta de um episódio descrito em seu livro Noites Tropicais, em que um artista se envolvera com menores, Nelson Motta decidiu se precaver ao escrever a biografia Vale Tudo – O Som e a Fúria de Tim Maia. Ele e a editora Objetiva se reuniram com os herdeiros do cantor para um acordo que previa pagamento de royalties para eles e a não-interferência na obra.
Fonte: A Tarde
8/9/2012
Obra em Vermelho
‘Vladimir Ilitch Lenin’, poema de Vladimir Maiakóvski dedicado ao Partido Comunista russo ganha 1ª tradução integral, por filha de Luís Carlos Prestes
Aleksandr Ródtchenko/Divulgação |
O poeta russo Vladimir Maiakóvski, autor de “Lenin” |
IRINEU FRANCO PERPETUO
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA
Para traduzir um poema sobre o líder de uma revolução comunista, o PC do B convocou a filha de Luís Carlos Prestes. A editora Anita Garibaldi e a Fundação Mauricio Grabois, ligada ao partido, estão lançando “Vladimir Ilitch Lenin”, de Vladimir Maiakóvski (1893-1930), com tradução de Zoia Prestes.
Escrito em 1924, ano da morte do chefe da Revolução Bolchevique, o texto estava inédito no Brasil em sua forma integral -trechos haviam sido publicados, com tradução de Carrera Guerra, em “Maiakóvski – Antologia Poética” (Max Limonad, 1987).
Zoia conta ter sido procurada pela editora, que tinha esse projeto para comemorar os 90 anos do PC do B.
Para ela, que viveu em Moscou entre 1970 e 1985, o livro evoca memórias de infância, quando os textos de Maiakóvski -parte do currículo escolar da então União Soviética- a apaixonaram.
“Eu participava de concursos de declamação de poesia com meus irmãos. Ganhei o livro como prêmio em um deles, um exemplar bonito, com pequenas fotos, a partir do qual fiz a tradução”, conta.
No autobiográfico “Eu Mesmo”, Maiakóvski relata ter tido medo, ao escrever “Lênin”, de “descer à mera paráfrase política”. Zoia também abordou o poema com medo, mas de outra ordem: professora da Faculdade de Educação da Universidade Federal Fluminense, jamais havia traduzido poesia. “Os poetas que me perdoem. Acho que não ficou tão ruim.”
Sua escolha foi priorizar o significado, tentando preservar a forma do texto, com a idiossincrática disposição “escalonada” dos versos.
“Traduzi palavra por palavra, embora de vez em quando tivesse de mudar a ordem, devido à diferente estrutura gramatical das línguas”, diz.
O resultado soa bem diferente das célebres recriações feitas pela trinca Boris Schnaiderman, Haroldo e Augusto de Campos na antologia do poeta russo publicada em 1982 pela Perspectiva, com diversas reedições posteriores.
A filha do Cavaleiro da Esperança traduzindo uma ode do grande poeta da Revolução de Outubro ao artífice dos eventos de 1917, dedicada ao Partido Comunista Russo, para uma efeméride do Partido Comunista do Brasil. Mera exaltação? Zoia argumenta:
“Sou grande admiradora de Maiakóvski, não apenas porque meus pais foram comunistas”, conta ela.
“Traduzi a biografia de Maiakóvski, para a Record, e paguei do meu bolso a viagem a Moscou para negociar os direitos e entrevistar o autor, Aleksandr Mikhailov.”
A tradutora se mostra atenta às ambiguidades em torno não só da obra mas da trajetória pessoal de Maiakóvski.
“O poema mostra a grandiosidade do líder, mas mostra também que, com a sua morte, viria uma ruptura”, afirma, já apontando para o fato que o linguista Roman Jakobson (1896-1982) descreveria, em “A Geração que Esbanjou Seus Poetas”, como o “suicídio anunciado” de Maiakóvski, em 1930, seis anos após a morte de Lênin.
VLADIMIR ILITCH LENIN
AUTOR Vladimir Maiakóvski
EDITORA Anita Garibaldi/Fundação Mauricio Grabois
TRADUÇÃO Zoia Prestes
QUANTO R$ 80 (234 págs.)
12/4/2012
Este é um dos autores que eu mais gosto de ler… leio, releio e releio e não me canso de desbravar o texto, as palavras, o pensamento, o estilo, enfim, toda a literatura de Jorge Luis Borges. Hoje, uma das poucas coisas boas que vi na internet foi esta postagem do blog Semióticas. Parabéns ao blog por nos oferecer tão bom texto sobre esse magnífico escritor, poeta, pensador, artista, filósofo, especialista em literatura inglesa, esse tudo-de-bom argentino!
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8/4/2012
La desescolarización del mundo patas arriba
Prologo a la edición eslovena de la obra de Eduardo Galeano, “Patas arriba. La escuela del mundo al revés”
Tradução para o espanhol: Gašper Kralj/Rebelión
El lenguaje cambió considerablemente, los conceptos se alteraron, y para describir el mundo tal y como hoy lo conocemos ya no basta decir simplemente que se trata de «la crisis del capitalismo más profunda en la historia moderna de la humanidad»: es necesario presentar pruebas. Y esto es lo que se propone el presente libro. Patas arriba. La escuela del mundo al revés (1998), basado en numerosos «estudios de casos», pone en evidencia las máscaras del sistema: en sus aulas enloquecidas rigen los valores invertidos con los que el capitalismo mantiene y justifica su poder global. Por un lado, el libro puede leerse de un modo informativo: es posible que nos interese saber cómo y por qué se impuso la creencia de que «otro mundo no es posible». Por otro, puede leerse de un modo transformativo: tal vez nos despierte, incite y desafíe a empezar a reflexionar de una manera distinta sobre cuestiones que nos parecen obvias. En tal caso, esta peligrosa lectura no sólo influirá en nuestros pensamientos, sino también en nuestra relación con el mundo. Y parece que fue con este propósito que su autor, el escritor uruguayo y apasionado del fútbol, Eduardo Galeano, acordó una alianza secreta en complicidad con su compañero ausente, José Guadalupe Posada, el artista mexicano de principios del siglo veinte.
Galeano obtuvo reconocimiento con Las venas abiertas de América Latina (1971). Obra en la que escribió aquellas páginas que la historia, esa bella durmiente (o ese «monstruo», depende del punto de vista), normalmente omite. Partió de la tesis de que «el subdesarrollo no es una etapa del desarrollo, es su consecuencia»; expuso los extravíos de los conquistadores e inquisidores, y luego de los economistas y tecnócratas convencidos de que América Latina sigue viviendo en la «infancia del capitalismo»; y, después de noventa noches en vela, en la oscilación entre el estremecimiento producido por cafeína y la concentración, entre las emociones y el riguroso trabajo mental, a finales de 1970 concluyó un extenso «panfleto político» de más de trescientas páginas al que no pronosticó más que «dos o tres años de vida». El propio libro demostró cuánto se equivocaba. Pero no en lo referente a su tesis sobre el desarrollo desigual y sus «modelos de éxito», tan devastadores para la mayoría de la población mundial – modelos en los cuales está basado también Patas arriba –, sino en cuanto a su «esperanza de vida». Aunque la ironía de Las venas abiertas molestó a los gobernantes sin sentido del humor pero con mucho sentido del terror estatal, sobrevivieron ambos: Galeano en el exilio – entre los años 1973 y 1976 en Buenos Aires, luego en Barcelona donde vivió y escribió hasta que en 1984 regresó a su Montevideo natal – y el libro, sobre todo en América Latina, donde por aquel entonces lo rescataban de las autoridades, lo ocultaban en los pañales, se lo pasaban de mano en mano, lo leían en los autobuses y en los metros, lo citaban en los encuentros y en las reuniones secretas. Las venas abiertas sigue siendo hoy una de las obras esenciales no sólo para entender la otra historia de América Latina, sino sobre todo para comprender la rabia humana ante el desenfrenado despojo de las riquezas terrenas y subterráneas del continente.
En cierto sentido, Patas arriba. La escuela del mundo al revés es la continuación de Las venas abiertas de América Latina. Es verdad que entre ambas obras transcurrieron casi treinta años, pero el mundo sigue regido por las mismas leyes básicas: con la exportación de las riquezas naturales todavía se importa la miseria humana; los mayores comerciantes de armas todavía son los más fervientes pacifistas; y los peores contaminadores, los más entregados a la doctrina verde. Pero no obstante, como dice Galeano, hace tres décadas existía la convicción de que «la pobreza era fruto de la injusticia», mientras que hoy «es el justo castigo que la ineficiencia merece». Por eso, en Patas arriba, que apunta no sólo a América Latina sino al planeta entero, Galeano pregunta otra vez: ¿de qué manera está conectada la pobreza con la injusticia? ¿Cómo están vinculados la ciencia y el derecho internacional con el racismo? ¿Cómo se justifican las leyes que excluyen a poblaciones enteras o incluyen solamente a aquellos individuos «productivos» que pueden ser impunemente desgastados y después de uso (y abuso) desechados? ¿Por qué las desigualdades económicas y sociales dentro del sistema capitalista sólo pueden aumentar? Y también: ¿cuánto cuestan hoy los asesinatos de las personas y de los países? ¿Cómo hoy ejercen el poder, en lugar de las rígidas dictaduras militares, las dictaduras de los medios de comunicación y del capital financiero? ¿Adónde viaja el dinero y por qué, de forma inversamente proporcional al considerable progreso tecnológico, las horas de trabajo están aumentando, los salarios disminuyendo, y la seguridad social, con las restantes condiciones para una vida digna, desapareciendo? ¿De qué manera el tiempo libre y el estudio también se han vuelto dependientes del trabajo? ¿Cómo se han roto tantos vínculos de solidaridad? Y para hacernos comprender cómo de verdad funciona este mundo, el mundo al revés, Galeano nos invita a una escuela en la que imparten clase distinguidos expertos, todos ellos catedráticos de Neoliberalismo; a una escuela que instruye sobre la importancia del egoísmo, la competencia, la traición al prójimo y el autoengaño para el crecimiento personal y el éxito en la vida; a una escuela donde se enseña «Curso básico de injusticia», «Curso básico de racismo y de machismo», etc. Pero Patas arriba no es «un libro fatalista». A pesar de que la solidaridad en la lucha contra el sistema de la época de Las venas abiertas se ha convertido en la lucha de uno contra otro y de todos contra todos, y aunque el dinero es el único fundamento firme (sólido) en el capitalismo tardío, Galeano no propone un «suicidio colectivo». Al contrario, para tratar los «temas depresivos» usa las armas del humor y de la ironía.
***
La primera publicación de Galeano, una caricatura política, aparece en el periódico montevideano El Sol. Más tarde es corresponsal y editor del influyente semanal uruguayo Marcha, cuyo archivo es destruido por entero durante la dictadura de Bordaberry. Edita el diario Época y dirige una editorial universitaria. Exiliado en Buenos Aires funda y publica la revista Crisis hasta su partida a Barcelona. Después de volver a Montevideo, en colaboración con antiguos colegas editores, retoma las ideas de crítica social de la Marcha: en 1985 fundan el semanal la Brecha. Con Adolfo Pérez Esquivel, Ernesto Cardenal, Tariq Ali y otros, forma parte del consejo consultivo de TeleSUR, con sede en Caracas, que hoy, junto con Al-Jazeera , es la red televisiva independiente y no comercial más importante del mundo. Por una parte, en sus muchos e ingeniosos artículos «periodísticos» no se pueden pasar por alto sus ambiciones literarias; por la otra, él mismo dice que, de hecho, sólo descubrió el «universo literario» después de haber escrito Las venas abiertas de América Latina. En todo caso, parece que al sentarse ante el escritorio a escribir una columna para The Progressive, un artículo para La Jornada , o un nuevo libro, en este escritor templado cada vez se despierta aquel chico de catorce años que – hace casi seis décadas – preparaba en Montevideo la que sería su primera publicación.
La obra literaria de Galeano se caracteriza por los escritos cortos. Con textos cada vez más breves, quiere decir más con menos palabras; él mismo afirma que «no se trata de simplificar para rebajar de nivel intelectual, ni para negar la complejidad de la vida [ …] . Por el contrario, se trata de lograr un lenguaje que sea capaz de transmitir electricidad de vida suprimiendo todo lo que no sea digno de existencia». [1] En el «desnudamiento del lenguaje» toma por modelo los consejos de su primer maestro, el escritor uruguayo Juan Carlos Onetti, el cual, durante las primeras tentativas literarias de Galeano, cuando éste se inclinaba atormentado sobre el papel en blanco, le recomendó que eligiera las palabras con sensibilidad. «Siempre me decía: “Vos acordate aquello que decían los chinos (yo creo que los chinos no decían eso, pero el viejo se lo había inventado para darle prestigio a lo que decía); las únicas palabras que merecen existir son las palabras mejores que el silencio”». [2] De ahí que Galeano no tenga un «horario» fijo para escribir a diario. Al contrario, de los músicos cubanos aprendió a ponerse a escribir solamente cuando le «escuecen las manos». El proceso creativo que sigue a la inspiración lo compara al acto de tejer: así como el tejedor urde el tejido con hilos multicolor, él entrelaza en sus textos las hebras de palabras que son las emociones, ideas, experiencias, memorias… Y, como dice, estas hebras son producto, a la vez, de «la razón y el corazón. Son ideas sentipensantes, no son ideas que pertenecen solamente al dominio de la razón. Están muy vinculadas con lo que se siente en las entrañas, provienen de esas voces misteriosas que la razón a veces no es capaz de entender, pero que es capaz de organizar». [3]
La temática literaria central de Galeano fue y sigue siendo la memoria. El mejor ejemplo es la trilogía Memoria del fuego (1982 – 1986), que al mismo tiempo es una de sus obras principales. En el primer libro, Los nacimientos (1982), se inspira en los mitos originarios indios y en la tradición oral precolombina y, a partir de la conquista, lo hace en los capítulos omitidos de la historia colonial temprana, hasta finales del siglo XVII. El segundo libro, Las caras y las máscaras (1984), es un mosaico de narraciones, que se opone a los libros escolares oficiales sobre la historia americana de los siglos XVIII y XIX. En él trata sobre el imperio británico en Cuba que en sólo diez meses convierte el país en una fábrica de azúcar; sobre las trece pobres colonias sin oro, sin plata y sin azúcar; sobre la primera novela americana, en la que los europeos no creen en los sueños, pero se imaginan cosas que son todavía más increíbles; sobre las promesas traicionadas de los conquistadores y de las profecías cumplidas de los guerreros indios. El tercer libro, El siglo del viento (1986), continúa de esta manera hasta los años ochenta del siglo XX. Está compuesto por las historias de América, que es la del Norte y cuyo Sur no existe; de las revoluciones y los revolucionarios, de Zapata, Madero, Pancho Villa; del «casi» poder, de la reforma agraria y del primer ataque «terrorista» en los Estados Unidos; del arte, de Frida Kahlo y Diego Rivera; de las aventuras amorosas de las multinacionales, de la bananización y la impotencia de los estados marioneta; de los colegas escritores, de Márquez, Neruda, Onetti, Cortázar, Rulfo, Borges, Carpentier, Walsh, Hemingway, Faulkner, del antropólogo Ribeira; del Lenin mexicano; de Al Capone que llama a la defensa contra el peligro comunista; del optimismo de Trotski que junto son su esposa Natasha en Coyoacán se alegra por cada mañana nueva; de Sandino, Árbenz, Che, Castro, Domitila, Allende; de Cuba que amanece sin Batista; de Guatemala de la que se apodera Castillo Armas y pone fin a la década de la restauración democrática del país; de Nicaragua, donde Somoza está presente siempre y en todas partes; de la guerra del Vietnam, de Martin Luther King, del rock ’ n ’ roll y Rockefeller; de la matanza de los estudiantes en Tlatelolco; del Chile bajo Pinochet y la Argentina bajo Videla; de los presos políticos uruguayos, etc.
Pero la Memoria del fuego no es sólo un compuesto de descripciones literarias de los acontecimientos rompedores, los grandes episodios históricos y sus sospechosos habituales, sino, sobre todo, de sus voces desoídas y de los detalles no vistos, elaborados con esmero y entrelazados en historias designadas y ordenadas por años para posibilitar al lector el fácil movimiento hacia adelante y hacia atrás en el tiempo. Con una distinción significativa: que todas están escritas en tiempo verbal presente. Como dice Carlos Fuentes: «El pasado humano se llama Memoria. El futuro humano se llama Deseo. Ambos confluyen en el presente, donde recordamos, donde anhelamos». [4] De ahí que el amplio collage de relatos, algunos de unas pocas frases, funcione como una serie infinita de fotografías datadas: puede que nos atraiga una historia que irrumpe implacablemente del pasado al presente, puede que nos interese el contexto y que consultemos para nuestro studium posterior el material adicional que Galeano anota bajo el texto con número bibliográfico adjunto. Al mismo tiempo añade que la Memoria del fuego no es obra de un historiador, sino de un escritor; no es un «almanaque histórico» sino una «creación literaria», con la que quiere «contribuir al rescate de la memoria secuestrada».
Después de haber escrito Las venas abiertas, una obra completa e íntegra en la que con precisión cirujana hizo una disección del capitalismo periférico y de sus consecuencias para América Latina y sus habitantes, renunció al grand récite. Y tras escribir la Memoria del fuego, renuncia también al coherente orden cronológico del texto. Por lo tanto, en sus obras posteriores, la búsqueda de conexiones y la creación de constelaciones de historias particulares extraídas de fuentes tan distintas como las advertencias de los dioses y los mensajes de los graffiti, las dejó al propio lector. El campo de la literatura «fragmentaria» lo descubrió por completo con El libro de los abrazos (1989). Éste no está escrito al «estilo de una novela de amor o de piratas» y su objetivo tampoco es una «reinterpretación lineal de la historia cultural». Las historias enmarcadas forman más bien una baraja de cartas, compuesta tanto por el terror como por las bellezas de América Latina. Página tras página están llenas de testimonios de personas que resplandecen con fuegos diferentes; de la pobreza, que es tan generosa como la riqueza es rapaz; de los «nadies» que cuestan menos que la bala que los mata; de los pueblos que mueren por los ideales de la revolución social con el mismo ardor con que el amor nace del dolor… Desde El libro de los abrazos hasta Espejos: una historia casi universal (2008), universo de casi seiscientos fragmentos, Galeano se está dirigiendo hacia «un lector mucho más complejo, mucho más exigente en materia espiritual», mientras que su literatura no se inserta con facilidad ni entre los cuentos ni entre los relatos breves, pues se resiste tenazmente a cualquier clasificación.
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Galeano derriba las fronteras. Él mismo dice que en vez de escritor debería ser «contrabandista, delincuente». [5] Sus libros no pertenecen a ningún género literario y al mismo tiempo contienen elementos de muchos. A pesar de esto, algunos críticos designaron Patas arriba. La escuela del mundo al revés como su «regreso» del área de las bellas letras al campo de la literatura políticamente comprometida, incluso al de la de protesta. [6] Otros comentaristas constataron que de hecho se había adelantado a los críticos que le reprochaban «didactismo innecesario» autoproclamándose «instructor» de la escuela cuyas perversas lecciones son las ú nicas adecuadas para comprender el capitalismo actual. [7] El viejo maestro respondió con su conocido tono irónico: «Etiquetar es siempre peligroso».
Las polémicas discusiones sobre la literatura políticamente comprometida, tan características de los círculos literarios latinoamericanos a partir de la segunda mitad del siglo XX, época en la cual caben también las obras de Galeano, han dividido a los autores por lo menos en tres grupos diferentes. En el primero se hallan los que abogaron por la total autonomía de la literatura y del arte en general, y así liberaron formalmente al autor y a su obra de los vínculos éticos y políticos con la comunidad. En el segundo, los aficionados a la literatura «revolucionaria», que floreció sobre todo con el empuje del triunfo cubano y se extendió por toda América Latina, durante los años siguientes a la caída de Batista, como «herramienta» a manos de la revolución. A pesar de su maestría literaria, a los primeros les criticaron los segundos por su «apoliticidad» ante el ascenso de las dictaduras militares. A los segundos les criticaron los primeros por su realismo social, sus novelas de tesis, por la devastación del lenguaje (incluso a través de la sobreabundancia de palabras), el adoctrinamiento ideológico, la retórica política, o sea, por la «poca profundidad» de sus obras. El tercer grupo se estableció en la intersección de los dos. Ahí se encontraban los escritores que intercedían a favor de la idea de libertad literaria, [8] pero al mismo tiempo también de la de responsabilidad individual y colectiva de los autores ante la necesidad profundamente sentida de radicales cambios sociales. [9] Su dilema recuerda a la disyuntiva de Orwell: del mismo modo que él «en una época pacífica podría haber escrito libros ornamentales o simplemente descriptivos», pero ante el ascenso del nazismo en Europa y del franquismo en España se vio obligado a «convertirse en una especie de panfletista», aquellos escritores latinoamericanos testigos de las sangrientas dictaduras que por toda América Latina aniquilaban las vidas humanas para aplastar los ideales de la revolución social, renunciaron al «egoísmo agudo», al simple «entusiasmo estético» y al mero «impulso histórico».
En efecto, de « panfletista » Galeano pasó a ser escritor. Pero, desde los años setenta del siglo pasado hasta ahora, no ha dejado de ser un inagotable e implacable crítico del sistema, acompañante de los movimientos sociales y luchador por la justicia en el continente americano y en el mundo. A finales de mayo de 2011 en todos los comentarios acentuaba sobre todo, en lugar del premio por el cual había sido invitado a España, el significado de la acampada y de la ocupación de las plazas, en las cuales participó tanto en la Puerta del Sol en Madrid como en la Plaça de Catalunya en Barcelona. Ante el desacuerdo fundamental entre el sistema político y la nueva generación de activistas que ya no cree en los partidos políticos ni en los rígidos sindicatos, considera que ellos eligieron el nombre apropiado, indignados, pues el mundo se divide entre los indignos y los indignados, entre los que en colaboración con los medios de comunicación de masas tratan de conservar el sistema vigente, y aquellos que, desde los barrios griegos antiautoritarios, la aventura egipciana democratizante, el experimento popular español, las feroces luchas por la educación libre y gratuita para todos en las calles de Santiago de Chile, hasta el Wall Street ocupado en septiembre del 2011, etc., resisten decididamente al sistema capitalista global. Al mismo tiempo, Galeano no deja de creer en el oficio de escritor: no consiente ni la actitud autoexcluyente de los autores que escriben y al mismo tiempo afirman que «escribir no tiene sentido en un mundo donde la gente muere de hambre», y aún menos la de aquellos que convierten la literatura en un objeto de deseo burgués, que en este mundo es accesible solamente a los que pueden comprar libros.
Su escritura es la denuncia del «control policial del lenguaje»; y precisamente Patas arriba es la denuncia del vocabulario de los expertos en relaciones internacionales, de los líderes de la opinión pública y de los estrategas militares, todos ellos enemigos «lingüísticos» contemporáneos de la crítica social y del pensamiento en general. Es la escuela de la época en la que las bombas se han hecho inteligentes, en la que la dictadura de los medios de comunicación se llama derecho a la información, en la que la educación se ha convertido en la administración del conocimiento… Por otro lado, aboga por la creación literaria liberada de la ideología dominante, de las prescripciones estilísticas, del valor de cambio económico y del fetichismo de la mercancía impuestos por la construcción capitalista del mundo a la literatura y al arte en general. Al mismo tiempo no asiente ni a la llamada literatura «revolucionaria», a la que considera, si está escrita para los convencidos, tan «desertora» como «una literatura conservadora consagrada al éxtasis en la contemplación del propio ombligo». Además, en relación con el «compromiso político» de las obras literarias, añade: «Muchas veces una buena novela de amor es más reveladora y ayuda más a la gente a saber quién es, de dónde viene y a dónde puede llegar, que una mala novela de huelgas. No comparto el criterio de una literatura política que además, en general, es aburridísima». [10]
Convencido de que la literatura quedará bloqueada de una o de otra manera mientras que los medios de comunicación se ocupen de la «imbecilización colectiva», Galeano persiste en su tarea básica: «rescatar la palabra, usada y abusada con impunidad y frecuencia para impedir o traicionar la comunicación». Ya en 1977 en el artículo Defensa de la palabra escribe: « “ Libertad” es, en mi país, el nombre de una cárcel para presos políticos y “Democracia” se llaman varios regímenes de terror; la palabra “amor” define la relación del hombre con su automóvil y por “revolución” se entiende lo que un nuevo detergente puede hacer en su cocina». [11] De manera similar, tres décadas más tarde, está «rescatando» palabras que en el diccionario preestablecido por la organización neoliberal del mundo han sido sustituidas por otras más aceptables: «el capitalismo luce el nombre artístico de economía de mercado»; «el imperialismo se llama globalización»; «las víctimas del imperialismo se llaman países en vías de desarrollo»; «el oportunismo se llama pragmatismo»; «la traición se llama realismo»; «los pobres se llaman carentes»; «el derecho del patrón a despedir al obrero sin indemnización ni explicación se llama flexibilización del mercado laboral». [12]
Por una parte, Galeano «rescata» palabras para desenmascarar el sistema. Pues considera sospechoso todo lo que se da por supuesto en el mundo que tenemos ante nuestros ojos (y que precisamente por eso ni siquiera solemos verlo). Por la otra, en su trabajo de escritor, sigue fiel a los principios basados en el lazo indisoluble entre «la ética y la estética, entre la justicia y la belleza». Y, si por ello resulta «prehistórico», él mismo asume el cargo de tales acusaciones.
***
Patas arriba. La escuela del mundo al revés es una especie de «manual» para leer las noticias diarias. Galeano propone un método simple: leer las declaraciones de los gobernantes al revés, pues todos sin excepción «prometen cambios y en el gobierno cambian, pero cambian… de opinión». En esta escuela aparecen, unos al lado de otros, los políticos, los líderes de la opinión pública, las cenicientas neoliberales de las telenovelas, los antihéroes desde Hussein, Bush, Bin Laden, Gadafi… y todos los que, cada uno en su momento de resplandor y fama internacional, ganaron el prime-time y los papeles principales en el cine de terror: los comerciantes de seguridad, los expertos policiales, los propietarios de las cárceles, los científicos que subordinaron el saber científico al poder imperial de los centros globales, la reina del opio Victoria de Inglaterra, los banqueros del Vaticano y de otras partes.
Y, aunque sólo en los últimos dos capítulos, también están presentes aquellos que resisten a tal escuela. Sus voces y sus caras por lo general no aparecen en las noticias diarias, y si lo hacen, es tan solo en la prensa amarilla. En este sentido, al final del libro nos encontramos como en el patio escolar de la imaginación política. Allí se hallan los individuos y los grupos que no obedecen a sus maestros, el Banco Mundial y el Fondo Monetario Internacional, los movimientos sociales que ocupan las calles en vez de asistir a clase: los Indios que han enmascarado sus rostros para «desenmascarar el poder que los humilla»; los campesinos sin tierra que en la tierra ocupada y expropiada a las multinacionales cultivan alimentos para sus familias; los activistas que luchan por el derecho a la bancarrota, a no pagar las deudas a los financieros y banqueros, a la renta básica garantizada independiente del empleo, a la vivienda para todos, a la educación y a la asistencia médica gratuitas. Entre ellos resuenan las consignas «¡Nadie nos representa!» y «¡Si no nos dejáis soñar no os dejaremos dormir!»
Allí está naciendo el « mundo nuevo, mundito nomás por ahora » de Galeano. También es ahí donde, al fin y al cabo, reside la utopía, la que siempre está tan sólo a un paso o dos delante del horizonte.
Por un lado Patas arriba. La escuela del mundo al revés se erige en la era del neoliberalismo, en la época del dominio del capital financiero, del desarrollo de los medios de comunicación y del florecimiento de la sociedad global de consumo. Por otro lado, en vez de un análisis político-económico, tenemos ante nosotros un entero «plan de estudios» entretejido con materia literaria explosiva. De ahí que podamos leer el libro «desde el principio hasta el final»; elegir la «asignatura» preferida y leerlo por separado; o abrirlo al azar y, junto con Alicia en el país de las maravillas de Galeano, a través de las anécdotas enmarcadas, echar un vistazo en cualquier momento al mundo en el espejo, al mundo al revés.
Galeano no es un «optimista profesional», pero al mismo tiempo tampoco deja «el pesimismo para tiempos mejores». Sostiene el principio de que «dentro de una sociedad presa, la literatura libre sólo puede existir como denuncia y esperanza». Por eso, Patas arriba representa una contribución importante a lo que Ivan Illich denomina «la desescolarización de la sociedad». Dice Illich que la escuela se ha vuelto «el más grande y el más anónimo de todos los patrones», al mismo tiempo «un nuevo tipo de empresa, sucesora del gremio, de la fábrica y de la sociedad anónima » , y una verdadera «agencia de publicidad que le hace a uno creer que necesita la sociedad tal como está». [13] Y así como este pedagogo radical colocó «la desescolarización de la sociedad» en el primer plano de todos los proyectos para la «liberación del hombre», Patas arriba viene a ser una rebelión contra el aislamiento individual y colectivo y, por tanto, una muestra del compañerismo y la solidaridad que Galeano desea que ayuden al mundo patas arriba a ponerse en pie.
[Referências]
[1] Eduardo Galeano, « Sobre el arte de un escritor », http://www.ciudadseva.com/textos/teoria/opin/galeano.htm (accesible el 28 de septiembre de 2011).
[2] Ibid.
[3] Carlos Aznárez, «Eduardo Galeano: ‘Cada vez es más difícil ser diferente’», http://sololiteratura.com/gal/entcadavezesmasdificil.htm (accesible el 28 de septiembre de 2011).
[4] Carlos Fuentes, La gran novela latinoamericana, Editorial Alfaguara, Madrid, 2011, p. 28.
[5] El novelista, ensayista, poeta, miembro del influyente grupo literario Sur y primer traductor de Theodor W. Adorno, Max Horkheimer y Walter Benjamin al español, Héctor Álvarez Murena, en sus Ensayos sobre subversión (1962) describe así tales «delincuentes con pasión escrituraria»: «Consideremos más atentamente estas vidas. En apariencia ociosos, al margen de la sociedad, aunque obstinados en influir sobre ella, sin distingos de clase, por cierto. Conciliábulos, fraternidades, movimientos regidos por consignas, olfato diabólico para percibir amigos potenciales y enemigos encubiertos. Difusión solapada de ideas que (precisamente por la forma en que se las maneja) resultan sospechosas de ilicitud. Tráfico de libelos redactados bajo el secreto y la noche. Excitabilidad desmesurada, temblores, síntomas permanentes de expectativa e intranquilidad… ¿No basta? ¿No se han configurado ya ante nosotros los rasgos de una cara infrecuente, pero característica, la cara repulsiva o atractiva (según el partido desde el que se la mire) de quien con su ansiosa actividad busca derrocar el orden constituido, del conspirador, del subversor? ». Héctor Álvarez Murena, Ensayos sobre subversión seguido de El nombre secreto, Editorial Octaedro, Barcelona, 2002, p. 31.
[6] Isabel Fonseca, »A Land in Exile From Itself,« http://www.nytimes.com/books/00/11/12/reviews/001112.12fonsect.html (accesible el 28 de septiembre de 2011).
[7] Mark Engler, »Whither a New Internationalism?« http://www.democracyuprising.com/2002/07/whither-a-new-internationalism/ (accesible el 28 de septiembre de 2011).
[8] En 1970, en ocasión de la celebración del décimo aniversario de la Casa de las Américas en La Habana, Julio Cortázar dijo: «Yo creo, y lo digo después de haber pensado largamente todos los elementos que entran en juego, que escribir para una revolución, que escribir dentro de una revolución, que escribir revolucionariamente, no significa, como creen muchos, escribir obligadamente acerca de la revolución misma». Julio Cortázar, «Algunos aspectos del cuento», primera publicación en la revista de la Casa de las Américas, no. 60, 1970, La Habana, http://www.literatura.us/cortazar/aspectos.html (accesible el 28 de septiembre de 2011).
[9] Gabriel García Márquez, por ejemplo, opina así: «Nunca hablo de literatura, porque no sé lo que es, y además estoy convencido de que el mundo sería igual sin ella. En cambio, estoy convencido de que sería completamente distinto de no existir la policía. Pienso, por tanto, que habría sido más útil a la Humanidad si en vez de escritor fuera terrorista». Javier García Sánchez, «Ser sido…», en: Anthony Percival (ed.), Escritores ante el espejo: estudio de la creatividad literaria, Editorial Lumen, Barcelona, 1997, p. 338.
[10] Eduardo Galeano, » Sobre el arte de un escritor ,« http://www.ciudadseva.com/textos/teoria/opin/galeano.htm (accesible el 28 de septiembre de 2011).
[11] Eduardo Galeano, Nosotros decimos no: crónicas (1963/1988), Siglo XXI editores (septima edición), México, 2001, p. 224.
[12] Eduardo Galeano, Patas arriba. La escuela del mundo al revés, Siglo XXI editores (sexta edición), México 2003, p. 41.
[13] Ivan Illich, Deschooling Society, CIDOC, México, 1970, http://philosophy.la.psu.edu/illich/deschool/ (accesible el 28 de septiembre de 2011).
Traducido por Gašper Kralj, Tina Malič.
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25/3/2012
Política no fim do mundo
Livro bíblico do Apocalipse reflete brigas internas entre seguidores de Jesus de origem judaica e os de origem pagã, afirma pesquisadora americana
Fernando Real | ||
Prostituta da Babilônia |
REINALDO JOSÉ LOPES
EDITOR DE “CIÊNCIA E SAÚDE”
Para desapontamento dos que gostam de especulações proféticas, o livro bíblico do Apocalipse não traz previsões detalhadas sobre Barack Obama ou o governo Dilma.
Segundo uma especialista americana, o autor da obra estava com a cabeça num problema bem mais próximo de sua época: os começos da briga entre judeus e cristãos.
Para a historiadora Elaine Pagels, o mais correto é dizer que o escritor, cujo nome é João (mas quase certamente não tem nada a ver com o apóstolo desse nome), via a si mesmo do lado judaico dessa disputa. Para ele, os verdadeiros seguidores de Jesus estavam dentro do judaísmo.
Pagels expõe em detalhes sua interpretação sobre a obra que encerra a Bíblia em “Revelations” (trocadilho com “Revelation”, nome mais usado para o Apocalipse em inglês). O livro da pesquisadora da Universidade de Princeton acaba de ser lançado nos Estados Unidos.
Há tempos os estudiosos do Novo Testamento perceberam o caráter fortemente judaico do Apocalipse.
Para ser mais específico, muitos acreditam que as batalhas e atrocidades descritas na obra são, em parte, autobiográficas. O autor teria nascido na Palestina e vivido os horrores da Grande Revolta Judaica (por volta do ano 70 d.C.), quando guerrilheiros judeus se levantaram contra Roma -e perderam feio.
“Há a referência à destruição do Templo de Jerusalém pelos pagãos no capítulo 11, por exemplo”, lembra Paulo Augusto de Souza Nogueira, especialista em literatura apocalíptica da Universidade Metodista de São Paulo.
Além disso, o grego do Apocalipse não se parece muito com algo saído da boca de um filósofo ateniense. Parece ter sido fortemente influenciado pelo hebraico e pelo aramaico, sugerindo que seu autor não era falante nativo do grego.
“Ele diz, por exemplo, ‘uma grande voz’ ou ‘uma voz de trovão’, quando haveria modos de dizer ‘uma voz forte’ em grego”, diz Nogueira.
CONTRA PAULO
Pagels vai além. Ela propõe que, após sair da Palestina e ir para a Ásia Menor (atual Turquia) depois da queda de Jerusalém, o autor do Apocalipse entrou em contato com cristãos de origem pagã -e não gostou nada do que viu.
Seriam membros de igrejas fundadas pelo apóstolo Paulo, que também era judeu, mas tinha uma visão menos rígida sobre a necessidade de seguir os preceitos do judaísmo caso a pessoa desejasse acreditar em Jesus.
Paulo, por exemplo, achava até admissível que os pagãos convertidos comessem carne de animais sacrificados aos deuses romanos. Para o autor do Apocalipse, isso seria quase o mesmo que fazer um pacto com o Diabo.
E Paulo não odiava Roma -ao contrário de João, cujos monstros míticos, como a famosa “Besta” (a do número 666) são representações disfarçadas do poder romano e de imperadores como Nero.
Para Pagels, João reserva alguns de seus termos mais duros -como “sinagoga de Satanás”- para cristãos de origem pagã que toleravam o consumo de carne sacrificada aos ídolos e se viam como o “novo Israel” -daí a referência a uma sinagoga.
“Isso é comum na literatura apocalíptica. A crítica mira tanto o inimigo externo quanto membros do grupo do autor com os quais ele não concorda”, diz Nogueira.
“REVELATIONS”
AUTORA Elaine Pagels
EDITORA Viking Adult
QUANTO US$ 15,81
CLASSIFICAÇÃO bom
TRUPE DO ARMAGGEDON
Entenda algumas referências veladas no livro do Apocalipse
TRONO DE SATANÁS
É assim que João, o autor do livro, refere-se à cidade de Pérgamo, na atual Turquia. O local tinha um grande templo dedicado ao deus pagão Zeus
CABEÇA RESSUSCITADA
O texto também diz que uma das cabeças da besta parecia ter sido morta por um golpe de espada, mas voltou a viver. É outra possível referência a Nero, morto por um de seus empregados, mas em torno do qual surgiu a lenda de que ele retornaria para reinar
PROSTITUTA DA BABILÔNIA
Uma das vilãs do livro, é uma personificação de Roma, estando sentada em cima de um monstro com sete cabeças (as sete colinas sobre as quais Roma foi construída)
666
O famoso “número da besta” equivale à soma do valor numérico das letras hebraicas do nome “Nero César” (cada letra hebraica tinha um valor tradicional como número). O imperador Nero (37 d.C.-68 d.C.) foi grande perseguidor dos seguidores de Jesus
616?
Curiosamente, alguns dos manuscritos gregos mais antigos têm o número 616, e não o 666
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Publicada en castellano la primera y única novela del poeta Walt Whitman
Franklin Evans, el borracho’ (1842), una novela “antialcohólica integrada en las corrientes reformistas que barrieron los Estados Unidos en el siglo XIX”
Madrid. (EFE).- Walt Whitman, considerado el único genio de la tradición americana por el “pope” de los críticos, Harold Bloom, es para muchos el fundador de la poesía moderna en el XIX. Antes de publicar poesía escribió una única novela Franklin Evans, el borracho, olvidada por el autor y que ahora se publica por primera vez en castellano. Editada por Cátedra, la obra es la única novela que escribió Whitman (Long Island, Nueva York, 1819-Nueva Jersey, 1892) autor de la monumental obra poética Hojas de Hierba, un canto a la vida, a la naturaleza, al nacimiento de la democracia y a la grandeza del hombre común.
El gran poeta de la libertad escribió también Franklin Evans, el borracho, en 1842, donde se reúnen las preocupaciones y gustos del entonces joven periodista, una década antes de que se convirtiera en la voz de Estados Unidos. Un libro del que llegaron a venderse unos veinte mil ejemplares y que, como se explica en el prólogo -que incluye un amplio estudio-, pertenece a un género que se prodigaba mucho en ese momento, “la ficción antialcohólica, un fenómeno integrado en las corrientes reformistas que barrieron los Estados Unidos en la primera mitad del siglo XIX”.
El volumen no solo trata del tema de alcohol, sino de la formación del joven norteamericano en una sociedad marcada por la crisis social y económica. “El hecho de que el primer poeta de los Estados Unidos, y para muchos del Nuevo Mundo, sea también el autor de una novela popular y exitosa que condena la bebida es motivo suficiente para invitar a la reflexión sobre el tema que trata”, escribe Carme Manuel, encargada de la edición del libro, que cuenta con la traducción de Sergio Saiz. “Como advierte Félix Martín, uno de los estudiosos wthimanianos más destacados, Franklin Evans es una respuesta novelada, muy alerta al clima reformista en el que se movía Whitman, que pone sobre todo de manifiesto su proximidad al pueblo y a la juventud neoyorquina, por más que el sensacionalismo gratuito y la moralina alejen al lector actual”, subraya.
La obra, que consta de una introducción, veinticuatro capítulos y una conclusión, narra la historia de Franklin Evans, un joven que desea fortuna y para ello viaja a Nueva York, donde conoce a otro joven, John Colby, que le hace caer en la bebida. Un descenso a los infiernos y un ciclo de frustraciones.
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Fonte: La Vanguardia
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A consciência de classe
Georg_Lukacs_-_Historia_E_Consciencia_De_Classe
NÚMEROS
CARDINAIS |
ORDINAIS |
|||
Arábicos |
Romanos |
Por extenso |
Símbolo |
Por extenso |
0 |
***** |
zero |
***** |
***** |
1 |
I |
um |
1º |
primeiro |
2 |
II |
dois |
2º |
segundo |
3 |
III |
três |
3º |
terceiro |
4 |
IV |
quatro |
4º |
quarto |
5 |
V |
cinco |
5º |
quinto |
6 |
VI |
seis |
6º |
sexto |
7 |
VII |
sete |
7º |
sétimo |
8 |
VIII |
oito |
8º |
oitavo |
9 |
IX |
nove |
9º |
nono |
10 |
X |
dez |
10º |
décimo |
11 |
XI |
onze |
11º |
décimo primeiro |
12 |
XII |
doze |
12º |
décimo segundo |
13 |
XIII |
treze |
13º |
décimo terceiro |
14 |
XIV |
quatorze |
14º |
décimo quarto |
15 |
XV |
quinze |
15º |
décimo quinto |
16 |
XVI |
dezesseis |
16º |
décimo sexto |
17 |
XVII |
dezessete |
17º |
décimo sétimo |
18 |
XVIII |
dezoito |
18º |
décimo oitavo |
19 |
XIV |
dezenove |
19º |
décimo nono |
20 |
XX |
vinte |
20º |
vigésimo |
30 |
XXX |
trinta |
30º |
trigésimo |
40 |
XL |
quarenta |
40º |
quadragésimo |
50 |
L |
cinqüenta |
50º |
qüinquagésimo |
60 |
LX |
sessenta |
60º |
sexagésimo |
70 |
LXX |
setenta |
70ª |
septuagésimo |
80 |
LXXX |
oitenta |
80º |
octogésimo |
90 |
XC |
noventa |
90º |
nonagésimo |
100 |
C |
cem |
100º |
centésimo |
101 |
CI |
cento e um |
101º |
centésimo primeiro |
200 |
CC |
duzentos |
200º |
ducentésimo |
300 |
CCC |
trezentos |
300º |
trecentésimo |
400 |
CD |
quatrocentos |
400º |
quadringentésimo |
500 |
D |
quinhentos |
500º |
qüingentésimo |
600 |
DC |
seiscentos |
600º |
sexcentésimo |
700 |
DCC |
setecentos |
700º |
setingentésimo |
800 |
DCCC |
oitocentos |
800º |
octingentésimo |
900 |
CM |
novecentos |
900º |
noningentésimo |
1000 |
M |
mil |
1000º |
milésimo |
FRACIONÁRIOS |
MULTIPLICATIVOS |
|
Símbolo |
Por extenso |
|
1/1 |
***** |
***** |
1/2 |
um meio, metade |
duplo, dobro, dúplice |
1/3 |
um terço |
triplo, tríplice |
1/4 |
um quarto |
quádruplo |
1/5 |
um quinto |
quíntuplo |
1/6 |
um sexto |
sêxtuplo |
1/7 |
um sétimo |
sétuplo |
1/8 |
um oitavo |
óctuplo |
1/9 |
um nono |
nônuplo |
1/10 |
um décimo |
décuplo |
1/11 |
um onze avo/s |
undécuplo / onze vezes |
1/12 |
um doze avo/s |
duodécuplo / doze vezes |
1/13 |
um treze avo/s |
treze vezes |
1/14 |
um quatorze avo/s |
***** |
1/15 |
um quinze avo/s |
***** |
1/16 |
um dezesseis avo/s |
***** |
1/17 |
um dezessete avo/s |
***** |
1/18 |
um dezoito avo/s |
***** |
1/19 |
um dezenove avo/s |
***** |
1/20 |
um vinte avo/s |
***** |
1/30 |
um trinta avo/s |
***** |
1/40 |
um quarenta avo/s |
***** |
1/50 |
um cinqüenta avo/s |
***** |
1/60 |
um sessenta avo/s |
***** |
1/70 |
um setenta avo/s |
***** |
1/80 |
um oitenta avo/s |
***** |
1/90 |
um noventa avo/s |
***** |
1/100 |
um cem avo/s, centésimo |
cêntuplo |
1/101 |
um cento e um avo/s |
***** |
1/200 |
um duzentos avo/s, ducentésimo |
duzentas vezes |
1/300 |
um trezentos avo/s, trecentésimo |
***** |
1/400 |
um quatrocentos avo/s, quadringentésimo |
***** |
1/500 |
um quinhentos avo/s, qüingentésimo |
***** |
1/600 |
um seiscentos avo/s, sexcentésimo |
***** |
1/700 |
um setecentos avo/s, septingentésimo |
***** |
1/800 |
um oitocentos avo/s, octingentésimo |
***** |
1/900 |
um novecentos avo/s, nongentésimo |
***** |
1/1000 |
um mil avo/s, um milésimo |
***** |
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Tipos de Uvas
A classificação das variedades de uvas (Embrapa Uva e Vinho) se dá conforme a origem: americana (vitis lambrusca, vitis riparia, etc…) e viníferas européias (para elaboração de vinhos finos).
Uvas tintas
Cabernet Sauvignon
| É uma antiga cultivar da região de Bordeaux, França, hoje plantada com sucesso em muitos países vitícolas. Atualmente é a vinífera tinta mais importante do Estado. É uma cultivar muito vigorosa e medianamente produtiva. Em vinhedos bem conduzidos obtêm-se uvas aptas à elaboração de vinhos típicos, que podem evoluir em qualidade com alguns anos de envelhecimento. Principais descritores aromáticos: pimentão verde, violeta, amora, cassis, ameixa, coco, baunilha, couro, cacau e tabaco. |
Merlot
É uma uva também originária da Região de Bordeaux. Possui cacho geralmente alado de tamanho médio e bagas pequenas. Quando elaborado com uva madura, seu vinho é redondo, aveludado, potente, rico em álcool e de coloração intensa. Devido à sua constituição fenólica, pode ser fermentado e amadurecido em barrica de carvalho. É um vinho que pode ser consumido puro ou cortado com outros vaietais, principalmente, com o Cabernet Sauvignon. Principais descritores aromaáticos: os mais complexos lembram trufas e são frutados, com características de ameixa, cereja preta, framboesa e groselia. |
Barbera
| `Barbera` é originária da região norte da Itália. Além de grande expressão em seu país de origem, a `Barbera` também é cultivada na Argentina e no Brasil. Foi introduzida no Rio Grande do Sul no início do século XX, e seu cultivo se difundiu na Serra Gaúcha, a partir de 1925. Foi a principal vinífera tinta da região até 1983. A partir daí, cedeu espaço para viníferas tintas francesas como ´Cabernet Franc`, ´Merlot` e ´Cabernet Sauvignon`. É uma cultivar produtiva e bem adaptada no Rio Grande do Sul. A uva normalmente atinge elevado teor de açúcar e apresenta acidez também elevada. É sensível às podridões do cacho, havendo prejuízos em anos chuvosos durante o período de maturação. Origina vinho rico em extrato, com coloração intensa e acidez elevada. Com estas características, a `Barbera` poderia ser uma boa opção de uva tinta para a região nordeste do Brasil. Obs.: Na Serra Gaúcha existe uma outra cultivar vinífera, não identificada, difundida com o nome de `Barbera d´Asti`. |
Pinot Noir
| O berço da `Pinot Noir` é a Borgonha, na França, onde é utilizada para a elaboração de vinhos tintos de alto conceito. Também ocupa lugar de destaque na região da Champagne, originando, juntamente com a `Chardonnay`, os famosos vinhos espumantes da região. É uma cultivar precoce, de ciclo curto, e por isso muito difundida em vários países da Europa setentrional. Foi introduzida no Brasil há mais de setenta anos, permanecendo nas coleções ampelográficas das estações experimentais. A difusão comercial da `Pinot Noir` no Rio Grande do Sul foi iniciada no final da década de 1970, sendo, aqui, utilizada para a elaboração de vinho tinto varietal e para champanha. Entretanto, é uma cultivar de difícil adaptação às condições do Estado em razão de sua alta susceptibilidade à podridão causada por Botrytis cinerea e a outras podridões da uva. Se ocorrer chuva durante a maturação, o que é normal no sul do Brasil, além das perdas diretas causadas pelas podridões, o vinho não apresenta sua tipicidade varietal. |
Pinotage
| ´Pinotage`é resultante do cruzamento ´Pinot Noir`x ´Cinsaut`, realizado na África do Sul pelo Prof. Peroldt, em 1922. Ela só foi propagada para testes em áreas comercias em 1952, e em 1959 foi consagrada ganhando o concurso de vinhos jovens da cidade do Cabo. O nome ´Pinotage` é uma combinação dos nomes ´Pinot` com ´Hermitage`, sendo esta uma denominação usada para a Cinsaut na África do Sul. Foi trazida para o Brasil em 1979, pela Maison Forestier, sendo cultivada experimentalmente nos vinhedos da empresa, em Garibaldi. A partir de 1990 começou a ser plantada comercialmente na Serra Gaúcha. É produtiva, resistente a podridões do cacho e apresenta ótimo potencial glucométrico (por razões já explicitadas), atingindo, normalmente, 20ºBrix a 22ºBrix, com uma acidez total ao redor de 110 mEq/L. Origina vinho frutado, apto a ser consumido jovem. |
Bonarda
| É uma cultivar da região norte da Itália. Foi introduzida no Rio Grande do Sul em 1930, sendo logo difundida nos vinhedos da Serra Gaúcha. Durante muitos anos ocupou a segunda posição entre as viníferas tintas cultivadas no Estado, superada apenas pela `Barbera`. Com o incremento na difusão das viníferas francesas, a partir da década de 1970, a `Bonarda` foi desvalorizada no mercado, verificando-se rápida diminuição de sua área cultivada. É uma cultivar de brotação precoce, vigorosa e produtiva. Normalmente atinge boa graduação glucométrica, 19ºBrix a 20ºBrix, e origina vinho com boa cor e rico em extrato. |
Cabernet Franc
Cultivar francesa da região de Bordeaux, a `Cabernet Franc` foi introduzida no Rio Grande do Sul pela Estação Agronômica de Porto Alegre, por volta de 1900. Na década de 1920 já era cultivada comercialmente pelos irmãos maristas em Garibaldi. Sua grande difusão no Estado, entretanto, ocorreu nas décadas de 1970 e 1980, tornando-se a base dos vinhos finos tintos brasileiros nesse período. A partir daí, foi superada pelas cultivares `Cabernet Sauvignon` e `Merlot` nos novos plantios de uvas tintas finas. `Cabernet Franc` adapta-se muito bem às condições da Serra Gaúcha, é medianamente vigorosa e bastante produtiva, proporcionando colheita de uvas de boa qualidade, atingindo facilmente 18ºBrix a 20ºBrix, em vinhedos bem conduzidos. Origina vinho com tipicidade, apropriado para ser consumido ainda jovem. Em anos menos chuvosos durante o período de maturação o vinho é mais encorpado e tem coloração mais intensa, apresentando considerável evolução qualitativa com alguns anos de envelhecimento. Na região do Vale do Loire, na França, é utilizada para a elaboração de vinhos rosados de alta qualidade. |
Gamay
| A Gamay é originária da Borgonha, frança. O cacho é pequeno e as bagas são de tamanho médio. O vinho geralmente jovem, fresco e com acidez relativamente elevada. O corpo é magro devido a uma franca composição em taninos. A cor varia de púroura a violeta e sua intensidade é de média a fraca. É um vinho para ser consumida jovem, mas há produtos de qualidade e com características para o envelhecimento. Principais descritores aromáticos: frutas vermelhas, como o morango. |
Syrah
| Também conhecida como Shiraz, há até pouco tempo sua origem era desconhecida. Entretanto, segundo estudos recentes feitos com DNA, é provavelmente o cruzamento natural entre as variedades Mondeuse Blanche (branca e originária do Departamento de Savoie) e Dureza (tinta e originária do Departamento de Ardèche) e provavelmente ocorrido na Região do Vale do Rio Rhône, França. O cacho é de tamanho pequeno a médio e as bagas são pequenas. Quando elaborado com uva madura, o vinho tem potencial alcoólico, é apto ao envelhecimento e de ótima qualidade. Possui cor intensa, é aromático, fino e complexo. É tânico, estruturado e com acidez adequada. Não confundir com a Petite Sirah que, também segundo estudos recentes com DNA, é uma denominação qua na Califórnia engloba ema série de variedades, como a Durif, Pelorsin e Pinot Noir. Principais descritores aromáticos: trufas, tabaco, alcaçus e frutas vermelhas – groselha, mirtilo e framboesa – floral e especiarias. |
Tannat
A Tannat é originária da Região Basca, sudoeste da França. Tem cacho grande e bagas médias ou pequenas. Hoje, é o vinho emblemático do Uruguai. É muito rico em compostos fenólicos, estruturado e de coloração muito intensa. Geralmente ácido, duro e nervoso. Se a uva é madura, o vinho envelhecido em barrica de carvalho torna-se relativamente redondo, mais suave e agradável. Sua coloração o credencia para ser usado tanbém em cortes com outros vinhos deficientes em cor. Tem características que permitem envelhecimento prolongado. Principais descritores aromáticos: frutas vermelhas, cassis, framboesa, ameixa e marmelo, caramelo e especiarias. |
Tempranillo
A Tempranillo é uma variedade originária de Rioja, Espanha, mas também em Portugal, com outras denominações. O tamanho do cacho varia de médio a grande e as bagas são médias. O vinho pode ser fino e complexo, é de boa qualidade, cor intensa e bem estruturado, mas geralmente com pouca acidez. Principais descritores aromáticos: frutas vermelhas – framboesa e morango – especiarias e tabaco. |
Touriga Nacional
Originária de Portugal, possui cachos e bagas de tamanho médio. É utilizada na elaboração dos vinhos do Porto de qualidade e, também, de vinhos não-licorosos. O vinho é complexo e potente, com bom corpo, boa estrutura fenólica, cor relativamente intensa, podendo ser envelhecida por longo tempo. Principais descritores armáticos: aroma frutado, principalmente, de cassis. |
Sangiovese
A Sangiovese é originária da Toscana, Itália, possui cachos e bagas de tamanho médio. É utilizada na elaboração de vinhos Chianti e nos chamados Supertoscanos. É um vinho jovem para ser consumido no dia a dia, de corpo médio, tem uma cor vermelha rubino, tênue e agradável e de sabor enxuto e harmônico. Principais descritores aromáticos: Concentra aromas de amoras silvestres e carvalho. |
Bordô
| É uma cultivar selecionada em Ohio, Estados Unidos, por Henry Ives, a partir de sementeira estabelecida em 1840. Tem importância comercial só no Brasil, onde foi introduzida em 1904, procedente de Portugal. Foi inicialmente difundida no Rio Grande do Sul, depois em Santa Catarina, Paraná e Minas Gerais. É uma cultivar muito rústica e resistente a doenças fúngicas, normalmente plantada de é-franco. A uva apresenta alta concentração de matéria corante, motivo principal de sua significativa difusão. Origina vinho e suco intensamente coloridos que, em cortes, servem para a melhoria da cor dos produtos à base de `Isabel` e de `Concord`. Participa, embora em pequena escala, do mercado de uvas in natura, sendo utilizada como uva de mesa e também para a elaboração de suco de uva caseiro. |
Concord
| Tradicional cultivar de Vitis labrusca, a ´Concord` é originária de Massachussets, Estados Unidos, onde foi a uva mais popular no final do século XIX, sendo utilizada para consumo in natura e para a elaboração de vinho e de suco. Foi trazida para o Rio Grande do Sul na segunda metade do século XIX, ganhando ampla difusão nas várias regiões do Estado e sendo, em seguida, levada para Santa Catarina e para o Paraná. Com o início da produção de suco de uva concentrado, em meados da década de 1970, houve aumento da demanda desta uva e conseqüente crescimento da área plantada na Serra Gaúcha. É uma cultivar de alta rusticidade, normalmente cultivada de pé-franco e, muitas vezes, dispensando tratamentos com fungicidas. Para a obtenção de boas produções comerciais, entretanto, normalmente são feitas algumas pulverizações. ´Concord` é relativamente precoce, medianamente vigorosa e bastante produtiva quando bem cultivada. O teor de açúcar é baixo, entre 13ºBrix e 16ºBrix. Entretanto, pelas suas características de aroma e sabor, ainda é a cultivar preferida para a elaboração de suco. |
Isabel
| A `Isabel` é tida como um híbrido natural de Vitis labrusca x Vitis vinifera. Segundo registros, originou-se de semente na Carolina do Sul, Estados Unidos, antes de 1800. Daí foi levada para o norte por Isabella Gibbs, expandindo-se rapidamente na costa leste do país. Entre 1820 e 1830 foi levada para a Europa onde alcançou grande difusão. Foi introduzida em São Paulo entre1830 e 1840, chegando ao Rio Grande do Sul pela Ilha dos Marinheiros entre 1839 e 1842. Teve rápida expansão em todos os estados vitícolas do Brasil, constituindo-se na base do desenvolvimento da vitivinicultura brasileira. `Isabel` é uma cultivar de alta fertilidade e rusticidade, proporcionado colheitas abundantes com poucas intervenções de manejo. Tem o sabor característico das labruscas, adaptando-se a todos os usos: é consumida como uva de mesa; usada para a elaboração de vinhos branco, rosado e tinto, os quais, muitas vezes, são utilizados para a destilação ou para a elaboração de vinagre; origina suco de boa qualidade; pode ser matéria prima para o fabrico de doces e geléias. É a cultivar mais plantada no Rio Grande do Sul e em Santa Catarina. Também vem apresentando boa performance no Triângulo Mineiro e no Mato Grosso, onde poderá ser uma boa opção para a elaboração de suco. |
Uvas brancas
Chardonnay
A Chardonnay é uma variedade que tem sua origem na Borgonha, França. Os cachos e as bagas são pequenos. Apresenta bom potencial para produção de açúcar, porém conserva sua acidez. O vinho Chardonnay é potente, tem bom volume de boca e pode apresentar grande complexibilidade aromática. No Brasil, o Chardonnay é jovem e fresco, mas apresenta composição que favore a fermentação em barrica de carvalho. Sua característica pode ser diferente, dependendo do método de fermentação utilizado. Destina-se, também, à elaboração de champagnes, espumantes e vinhos licorosos. É um dos vinhos de maior aceitação no mercado. Principais descritores aromáticos: maçã, citrus, abacaxi, pêssego, melão e maracujá; baunilha e manteiga. |
Sauvignon Blanc
Provavelmente provenha das regiões centrais ou do sudeste da França. Tem cachos e bagas pequenos. Os vinhos vinhos são secos, elegantes, finos e típicos. Pode ser utilizada para a elaboração de vinho licoroso de grande qualidade, como os botritizados. Principais descritores aromáticos: vegetal, frutado – citrus, damasco, pêssego, avelã, maracujá – floral e manteiga. |
Moscato
Sob esta denominação, há uma série muito grande de variedades. A maior delas tem sua origem provavelmente no Oriente Médio. O Moscato Branco tem cachos e bagas grandes. Pode dar origem a vinhos secos ou licorosos, com grande tipicidade devida ao caráter varietal de moscato. O Moscato, produzido no Vale do São Francisco, possui cacho pequeno e bagas médias ou pequenas e destina-se especialmente à produção de espumante moscatel e vinho licoroso. Isso deve ao seu potencial de açúcar, sabor intenso e delicado de moscato. Principais descritores aromáticos: flores brancas e forte característica do sabor moscato. |
Riesling Renano
A variedade Riesling Renano, originária do Vale do Rio Reno, é mais difundida no mundo que a Riesling Itálico. Tem cachos e bagas pequenos. O vinho é de alta qualidade, agradável, de bom equilíbrio, açúcar, acidez e muito aromático. Pode ser utilizada, também, para a elaboração de excelentes vinhos licorosos quando a uva é supermadura ou quando apresenta podridão nobre. Principais descritores aromáticos: flores brancas, frutas – citrus, pêssego, damasco, masco, abacaxi, mel e minerais. |
Pinot Grigio
É uma variedade originária da Bourgogne, França. Possui película de cor “cinza”, podendo ser mais intensa nas regiões meridionais. Amadurece quase na mesma época que a Pinot Noir. É uma variedade relativamente vigorosa, mas não muito produtiva. É adaptada a solos profundos, secos e bem expostos. Adapta-se bem ao frio, mas é sensível à podridão cinzenta e ao míldio. Possui cachos e bagas pequenos ou muito pequenos. O vinho resultande é branco, possante e encorpado. Principais descritores aromáticos: frutas de polpas brancas, melão e pêssego. |
Peverella
Esta casta, originária do sul do Tirol, foi trazida para o Rio Grande do Sul no início do século XX por João Dreher Filho. Sua difusão na Serra Gaúcha ocorreu a partir da década de 1920, estimulada principalmente pela empresa Dreher. Na década de 1940 era a principal vinífera branca cultivada no Estado, mantendo-se em posição de destaque nesse grupo até a década de 1970. É uma cultivar vigorosa que, entretanto, apresenta o inconveniente da alternância de produção. Chega a 30 t/ha em anos férteis e não atinge 10 t/ha nos anos menos produtivos. Apresenta boa resistência a doenças fúngicas, especialmente às podridões do cacho, e normalmente é colhida com 15°Brix a 16°Brix. Origina vinho de boa qualidade, normalmente utilizado para cortes. A área cultivada com `Peverella` vem decrescendo há vários anos por causa, principalmente, do declínio provocado por vírus e a sua alternância de produção, associados a um maior estímulo para o plantio de outras viníferas por parte da indústria vinícola. |
Prosecco
Estudos ampelográficos, realizados a partir de 1979, mostram que a cultivar encontrada nos vinhedos de Bento Gonçalves, com o nome de `Biancheta Bonoriva`, é, na realidade, a `Prosecco`. Não há registros sobre sua difusão, mas, segundo informações dos viticultores, ela é plantada há muitos anos neste município. Mais recentemente, no final da década de 1970, Ítalo Zanella, empresário e viticultor de Farroupilha, importou mudas de `Prosecco` da Itália para plantio em sua propriedade. Este material serviu de base para novos plantios na região a partir de 1980. É uma cultivar do norte da Itália, onde é utilizada para a elaboração de conceituado vinho espumante. Apresenta bom desempenho agronômico na Serra Gaúcha, porém, em virtude da precocidade de brotação, pode sofrer danos causados por geadas tardias em áreas susceptíveis. A exemplo do que ocorre na Itália, também aqui origina espumantes de boa qualidade. |
Sémillon
Sauternes, na França, é o berço da `Sémillon`. É a principal cultivar branca da região de Bordeaux, onde é utilizada principalmente para a elaboração de famosos vinhos licorosos naturais, como os das denominações Sauternes, Barsac e Montbazillac. Foi trazida para a Serra Gaúcha pela Estação Experimental de Caxias do Sul em 1921, procedente dos vinhedos Vila Cordélia, de São Paulo. Relatos desta instituição indicavam a `Sémillon´ como uma vinífera promissora para a região ainda na década de 1930, quando já era cultivada pelos irmãos maristas em Garibaldi. A grande difusão desta cultivar na região, entretanto, ocorreu a partir do início da década de 1970, com grande participação da Estação Experimental de Caxias do Sul. O volume de uvas vinificadas de `Sémillon´ chegou a superar 7,3 milhões de kg no ano de 1985. Daí em diante, a produção declinou emconseqüência da política de preços mínimos que favoreceu outras cultivares. É uma cultivar de vigor médio, produtiva e muito bem adaptada às condições da Serra Gaúcha. Aqui, origina vinho neutro, normalmente utilizado em cortes com outros vinhos finos, sendo também usado como varietal. |
Trebiano
Cultivar italiana da região de Toscana, a `Trebbiano` tem grande difusão no mundo vitícola. É bastante cultivada na Itália, onde origina vinhos brancos secos e participa da composição do Chianti. É extensamente cultivada na França para a elaboração de vinhos para a destilação em Cognac e em Armagnac, além de participar da composição de vinhos de várias denominações de origem. Também está presente nos vinhedos da Bulgária, Grécia, Austrália, África do Sul, Estados Unidos, México, Argentina e Uruguai. Faz parte da história do cultivo de viníferas no Rio Grande do Sul, tendo sido uma das primeiras castas desse grupo a serem cultivadas no Estado. Já na década de 1930 era a vinífera mais propagada na Serra Gaúcha, destacando-se pela sua adaptação e produtividade. Representou, até 1973, mais de 50% da uva vinífera branca produzida na região da Serra. Também é cultivada na região da fronteira, em Santana do Livramento, e no Vale do Rio do Peixe, em Santa Catarina. No Rio Grande do Sul, é utilizada para a elaboração de vinho varietal, normalmente comercializado com os nomes de `Ugni Blanc` ou `Saint Émillion`, para a produção de espumantes e para cortes com outros vinhos finos de mesa. |
Gewurztraminer
Referências indicam a `Gewurztraminer` como uma mutação somática da `Traminer Blanc`, uma cultivar provavelmente originária do Tirol Italiano. Foi levada para a Alemanha no século XVI, onde teria sido denominada `Traminer Rother` (´Traminer Rosa`). Na Alemanha, na região do Palatinado, duas formas rosadas foram distinguidas pela seleção: a `Savagnin Rose`, não aromática, e a `Gewurztraminer`, aromática. Foi introduzida no Rio Grande do Sul pela Estação Experimental de Bento Gonçalves, em 1948, procedente da França. Entretanto, só foi difundida comercialmente no Estado a partir do final da década de 1970, sendo cultivada na Serra Gaúcha e em Santana do Livramento. É uma cultivar de difícil cultivo por causa da alta susceptibilidade ao declínio e morte de plantas e à podridão cinzenta da uva, causada por Botritys cinerea. Além disso, é uma cultivar de baixa produtividade. O conjunto destes fatores, após um período inicial de euforia, determinou a redução da área plantada com esta cultivar no Rio Grande do Sul. O vinho de `Gewurztraminer` é reconhecido internacionalmente pela fineza e intensidade de aroma e sabor. É um dos principais varietais produzidos na região da Alsácia, na França. |
Malvasia Amarela
`Malvasia Amarela` foi introduzida no Rio Grande do Sul pela Estação Experimental de Bento Gonçalves, em 1960, procedente da Estação Experimental de Caldas-MG, sob a denominação de `Malvasia de Lípari`. Na verdade, não é `Malvasia de Lípari`. Trata-se, possivelmente, da `Malvasia Bianca di Candia` descrita na ampelografia italiana. Demonstrou bom comportamento nos experimentos de Bento Gonçalves, sendo logo depois difundida nos vinhedos da região, principalmente neste município e em Garibaldi. Não se tem idéia exata da importância desta cultivar na região porque ela, assim como outras cultivares, é comercializada sob a denominação genérica `Malvasia`. É utilizada para a elaboração de vinho branco neutro, usado em corte com outros vinhos finos de mesa ou como vinho base para a elaboração de espumantes. |
Malvasia Bianca
| A `Malvasia Bianca` foi introduzida no Rio Grande do Sul pela Estação Experimental de Caxias do Sul, em 1970, procedente da Universidade da Califórnia. Avaliada pela pesquisa, demonstrou bom desempenho produtivo na Serra Gaúcha, surgindo como uma alternativa de uva aromática para a região. A partir de unidades de observação instaladas no campo de testes da Cooperativa Vinícola Aurora Ltda e em propriedades de viticultores, começou a ser plantada comercialmente em meados da década de 1980. Origina vinho acentuadamente moscatel que pode ser comercializado como varietal, ser usado como fonte de aroma em cortes com outros vinhos ou servir como base para espumantes. |
Riesling Itálico
A origem da Riesling Itálico não está definida, pois se tem notícia de seu cultivo em vários países europeus como a França, Alemanha, Itália e Romênia. O cacho e a baga são pequenos ou médios. Elaborado com uva não suficientemente madura, o vinho tem pouco corpo e é ácido. Mas se a uva for madura, ele é equilibrado, delicado, agradável, fresco e aromático. Das duas Riesling é a mais cultivada no Brasil e seu vinho deve ser consumido jovem. Principais descritores aromáticos: flores brancas e frutas – citrus, maçã e abacaxi. |
Malvasia Di Candia
| `Malvasia di Candia` é uma vinífera italiana, cultivada, sobretudo, nas regiões de Piacenza e Parma. Foi difundida no Rio Grande do Sul pela Companhia Vinícola Riograndense, que a cultivou nos municípios de Flores da Cunha, Caxias do Sul e Pinheiro Machado, para elaborar um vinho varietal suave, tipicamente aromático. Embora apresente bom desempenho agronômico e intenso e agradável aroma moscatel não alcançou grande difusão no Estado. |
Malvasia Verde
| `A cor esverdeada da película da uva deu à `Malvasia di Lipari` a denominação regional de `Malvasia Verde`, utilizada na Serra Gaúcha. É uma antiga casta que, segundo a ampelografia italiana, deve ter sido levada por colonizadores gregos para a ilha de Salina, na Itália, por volta de 588 a.C.. Embora não se disponha de informações sobre a procedência e data de entrada no Rio Grande do Sul, sabe-se que ela foi uma das primeiras uvas viníferas cultivadas no Estado. Na década de 1930, a `Malvasia`, possivelmente esta, era uma das viníferas brancas mais disputadas pela indústria vinícola nos municípios de Bento Gonçalves e Garibaldi. É uma cultivar produtiva e resistente às podridões do cacho. Origina vinho branco neutro, normalmente utilizado para cortes com outros vinhos finos ou como vinho base para a elaboração de espumantes. |
Viognier
É uma variedade originária das encostas do Rio Ródano, França. É de maturação média a tardia e se adapta bem em solos profundos mas não muito férteis. Tem brotação precoce, o que poe acarretar prejuízos quando exposta a geadas tardias. Possui certa resistêncià maior parte das fúngicas. Possui cachos e bagas pequenos. Seu vinho é muito aromático, complexo e de qualidade. Pode ser alcólico e grao, mas, dependendo das condições, pode ter pouca acidez. Principais descritores aromáticos: flores brancas e frutas de caroço. |
Níagara
| Cultivar de Vitis labrusca, a `Niágara Branca` foi selecionada do cruzamento ´Concord` x ´Cassady`, realizado no condado de Niagara, Nova Iorque, em 1868. Logo difundiu-se nos Estados Unidos, sendo ainda bastante cultivada naquele país como uva de mesa e para a elaboração de vinho e suco. Entrou no Brasil pelo Estado de São Paulo, onde foi introduzida pelo fruticultor Benedito Marengo, em 1894. Ganhou expressão a partir de 1910, sobrepujando a `Isabel` como uva de mesa nos anos subseqüentes. De São Paulo expandiu-se para vários estados brasileiros, sendo amplamente difundida no sul e sudeste do país como uva de fundo de quintal, em face de sua rusticidade e resistência a doenças. Destacam-se, atualmente, como produtores de `Niágara Branca` o Rio Grande do Sul, Santa Catarina e Minas Gerais. É utilizada principalmente como fonte de matéria prima para a elaboração de vinho, muito típico por suas características de aroma e sabor, amplamente aceito pelo consumidor brasileiro. Perdeu espaço como uva de mesa para a `Niágara Rosada`. |
Níagara Rosada
| É uma mutação somática da `Niágara Branca`, detectada em parreiral do Sr. Antônio Carbonari, em 1933, no município de Louveira, São Paulo. Distingue-se da forma original, branca, pela intensa cor rosada das bagas. Difundiu-se rapidamente, substituindo a `Niagara Branca` como uva de mesa, em virtude de o consumidor brasileiro preferir uvas rosadas para consumo in natura. É a principal uva de mesa cultivada no Rio Grande do Sul, em Santa Catarina e no sudeste de São Paulo. Nos últimos anos, vem sendo plantada nas regiões tropicais do Brasil, especialmente no noroeste de São Paulo, no Mato Grosso, no Mato Grosso do Sul e no norte de Minas Gerais. Como resultado, já começa a aparecer no mercado em períodos de entressafra das regiões tradicionais, com perspectivas de grande expansão nos próximos anos. Além dos plantios comerciais, a `Niagara Rosada` apresenta ampla difusão em pequenos parreirais para consumo doméstico, devido a sua produtividade e rusticidade. |
Goethe
| A cultivar difundida em todo o Rio Grande do Sul e em Santa Catarina sob a denominação `Goethe` ou alguma das sinonímias acima é, na verdade, uma cultivar de Vitis labrusca ainda não identificada, diferente da `Goethe`. Registros históricos dão conta que esta cultivar era plantada em várias regiões do Estado já nas décadas de 1920 e de 1930. Possivelmente, foi aqui introduzida juntamente com outras uvas americanas, como `Isabel` e `Concord`, na segunda metade do século XIX. Atualmente, as maiores concentrações de vinhedos desta cultivar estão nos municípios de Jaguari, onde origina um vinho típico regional, e de Farroupilha, onde também é utilizada para a elaboração de vinho característico. É uma cultivar muito rústica, resistente a doenças fúngicas e, normalmente, plantada de pé-franco. Também tem sido usada, em pequena escala, como porta-enxerto. Caracteriza-se pelo alto vigor, cachos pequenos soltos, bagas esféricas, rosadas, película espessa. As bagas, quando maduras, desprendem-se facilmente do engaço. Origina vinho branco intensa e tipicamente aromático, muito apreciado por alguns, detestado por outros. A verdadeira `Goethe` é cultivada em pequena escala, tanto no Rio Grande do Sul como em Santa Catarina, com o nome `Martha`. |
Flora
| `Flora` é uma cultivar de Vitis vinifera, resultante do cruzamento `Sémillon` x `Gewurztraminer`, selecionada pelo Prof. H. P. Olmo, da Universidade da Califórnia. Foi trazida para o Rio Grande do Sul pela Estação Experimental de Caxias do Sul, em 1965. Destacou-se entre outras viníferas pelo comportamento produtivo e qualidade da uva obtidos nos experimentos conduzidos na Serra Gaúcha. Entretanto, os primeiros plantios comerciais desta cultivar no Estado foram feitos em Santana do Livramento, pela empresa National Distillers, em meados da década de 1970, onde também apresentou bom desempenho. Ganhou espaço nos vinhedos da Serra Gaúcha a partir de 1990. `Flora` é bastante resistente às podridões do cacho, porém, é sensível à antracnose. Apresenta elevado potencial glucométrico e acidez equilibrada. Tem sido usada para a elaboração de vinho branco varietal e também para espumantes, originando produtos de qualidade, com aroma e buquê característicos. |
Fonte: CD Cadastro Vitícola Embrapa Uva e Vinho; Manual do Vinho
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12/2/2011
Vence na vida quem diz sim
1ª versão*
Vence na vida quem diz sim
Vence na vida quem diz sim
Se te dói o corpo
Diz que sim
Torcem mais um pouco
Diz que sim
Se te dão um soco
Diz que sim
Se te deixam louco
Diz que sim
Se te babam no cangote
Mordem o decote
Se te alisam com o chicote
Olha bem pra mim
Vence na vida quem diz sim
Vence na vida quem diz sim
Se te jogam lama
Diz que sim
Pra que tanto drama
Diz que sim
Te deitam na cama
Diz que sim
Se te criam fama
Diz que sim
Se te chamam de vagabunda
Montam na cacunda
Se te largam moribunda
Olha bem pra mim
Vence na vida quem diz sim
Vence na vida quem diz sim
Se te cobrem de ouro
Diz que sim
Se te mandam embora
Diz que sim
Se te puxam o saco
Diz que sim
Se te xingam a raça
Diz que sim
Se te incham a barriga
De feto e lombriga
Nem por issocompra a briga
Olha bem pra mim
Vence na vida quem diz sim
Vence na vida quem diz sim
*1ª versão: durante a ditadura militar essa letra, da música “Vence na vida quem diz sim”, de Chico Buarque e Ruy Guerra, foi vetada pela censura e em disco foi gravada em versão orquestral.
*OUTRA VERSÃO:
Vence na vida quem diz sim
Vence na vida quem diz sim
Se te dói o corpo, diz que sim
Torcem mais um pouco, diz que sim
Se te dão um soco, diz que sim
Se te deixam louco, diz que sim
Se te tratam no chicote, babam no cangote
Baixa o rosto e aprende o mote, olha bem pra mim
Vence na vida quem diz sim
Vence na vida quem diz sim
Se te mandam flores, diz que sim
Se te dizem horrores, diz que sim
Mandam pra cozinha, diz que sim
Chamam pra caminha, diz que sim
Se te chamam vagabunda, montam na cacunda
Se te largam moribunda olha bem pra mim
Vence na vida quem diz sim
Vence na vida quem diz sim
Se te erguem a taça, diz que sim
Se te xingam a raça, diz que sim
Se te chupam a alma, diz que sim
Se te pedem calma, diz que sim
Se já estás virando um caco, vives num buraco
E se é do balacobaco olha bem pra mim
Vence na vida quem diz sim
29/10/2010
Palavra Cantada – música na formação infantil
13/08/2010 20:24
ENTREVISTA – ISABEL ALLENDE
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QUEM É Escritora chilena, de 68 anos, mora na Califórnia com o marido. É sobrinha de Salvador Allende, presidente do Chile morto no golpe militar de 1973O QUE PUBLICOU É uma das autoras mais populares da América Latina, com 15 romances, além de livros de contos e peças de teatro. Ficou famosa com A casa dos espíritos, de 1982. Em 1995, escreveu Paula, sobre a filha, vítima de uma doença neurológica |
Isabel Allende – Há 27 milhões de escravos no mundo. Todos os países firmaram acordos para acabar com essa prática. Mas não conseguiram aboli-la. No Paquistão, há 1 milhão de escravos na agricultura. Aldeias inteiras estão escravizadas por servidões de dívida. O camponês se endivida com um negociante e precisa colocar os filhos e netos à disposição para trabalhar até pagar o que deve. Vendem suas filhas como empregadas domésticas ou para os prostíbulos. Em outros países, há a prática de vender as meninas de 9 anos para casar. Isso também é uma forma de escravidão. No Haiti, um país onde os negros escravos lutaram por sua independência, ainda há milhares de crianças em trabalhos domésticos forçados, porque seus pais não podem sustentá-las. No Nepal, meninas de 5 a 7 anos são vendidas por uma quantia equivalente a um par de cabras. A maioria dos casos ocorre no Sudeste Asiático, onde as fronteiras são permeáveis e ninguém controla o tráfico de pessoas.
Allende – Conseguiram abolir a escravidão oficialmente no mundo. O drama é que hoje ela está oculta. Antigamente, o escravo era investimento de capital e exigia cuidados para que rendesse com seu trabalho. Hoje, o negócio é clandestino. Os escravos não valem nada. O movimento abolicionista hoje está na internet, com campanhas como Free the Slaves (Soltem os Escravos).
Allende – Há formas de violação dos direitos humanos que não incluem a escravidão. Ela é muito precisa. O escravo é alguém obrigado a trabalhar contra sua vontade, sob ameaça de violência, sem remuneração.
Allende – Conheci escravos até nos Estados Unidos. Alguns eram imigrantes ilegais que foram praticamente sequestrados. Trabalhavam sob ameaça de violência ou de ser denunciados às autoridades para deportação. Encontrei na Califórnia um garoto negro que tinha acabado de escapar. Aparentemente, uma igreja cristã circulava pelo sul do país com um coro de meninos que se apresentava em eventos públicos. Supostamente para juntar fundos para um orfanato na África. Mas o orfanato não existia, as crianças estavam sequestradas. Eu não estava pensando em nada disso quando comecei o livro. Queria resgatar algo da fascinante história de Nova Orleans. Na pesquisa, eu me dei conta que o sabor francês da cidade vinha do Haiti. Quando houve a revolta dos escravos no final dos anos 1700, cerca de 10 mil colonos franceses fugiram para lá.
Allende – Ela não é feliz. Mas tem uma grande dignidade. Sua obsessão pela busca da liberdade começa de criança. Por isso, foge várias vezes. Em um momento da novela, ela pode escapar com seu amante. Mas tem de escolher entre seus filhos e a liberdade, e fica com os filhos. Ela é feliz em alguns momentos de amor, mas vive uma situação de opressão.
A ilha sob o mar (editora Bertrand) conta o drama de escravos no Haiti e na Louisiana. Preço sugerido: R$ 44
Foto: Fernando Donasci/Folhapress
Allende – Acho que não mudaram muito nestes séculos. O que me fascinou nesse livro foi a relação do poder com a impunidade. O amo tinha um poder absoluto, de vida ou morte. Podia violar as mulheres, porque a violência contra uma mulher de cor, escrava ou livre, não era considerada estupro. A lei só defendia as mulheres brancas. Essa relação de poder absoluto não ocorre só na escravidão. Também existe entre os militares. Um oficial graduado pode subjugar os subalternos. Nas prisões, os carcereiros fazem o que querem com os presos. Nas ditaduras, a polícia pode prender, matar e torturar alguém, como ocorreu no Chile. Isso acontece até dentro da família, se o pai psicótico ou alcoólatra abusa dos filhos.
Allende – Numa situação muito triste. Já foi invadido e ocupado várias vezes. Tem um governo quebrado. Vive da caridade. E ainda foi atingido por furacões e um terremoto. O país não consegue ficar de pé. Nem teve oportunidade de avançar sozinho. A ajuda que recebeu não foi muitas vezes benéfica. Tantos países prometeram milhões de dólares. Mas pouco disso realmente foi para lá, e o dinheiro não vai para a reconstrução do país.
Allende – Os livros têm o poder de mudar as mentalidades. Mas os escritores não pensam nisso quando os escrevem. Obras como A cabana do Pai Tomás (livro americano que marcou o movimento abolicionista) tiveram impacto, mas a autora não imaginava isso antes. Ninguém pode almejar isso.
Livros
Os sofrimentos do jovem Werther – J. W. Goethe
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